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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Dorme sereno enquanto ela fica a observar-lo. O corpo largado no quarto sombrio e triste. Percorre o braço macio até à mão. Entrelaça os dedos nos seus e aconchega-se a ele, mais um pouco. Respira o seu perfume amadeirado rente ao pescoço, como um incenso calmante. Pergunta-se se ele sente o calor do seu peito despido nas costas frias, a sua pele a roçar na dele, as pernas encaixadas como as peças de um puzzle. Será que sente que ela está ali? Será que ele está mesmo ali? Já não distingue a realidade da fantasia. Quando a noite incómoda impede-a de dormir, ganha fôlego no abraço que tacteia sozinha no escuro.
Sentada a um canto com os joelhos junto ao peito,
abraça-os com os seus próprios braços,
aperta com força e baixa a cabeça esperando que ela mergulhe,
que se afogue, naquele vazio confuso e dormente.
Há dias em que lhe apetece ficar assim,
sozinha a um canto,
incapaz de sentir mais que o seu abraço,
de ver mais que os seus joelhos,
proibida de pensar.
Há dias em que não quer "ser" ou "estar".