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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Tenho andado fugida...confesso! Não por gosto...mais por necessidade...
Pois que estou a convencer-me a mim própria que não preciso dormir, e lá chegarei um dia!
Na verdade o trabalho tem sido esgotante em tempo e em espaço cerebral, o curso muito entusiamante mas também com trabalhos exigentes .... e a vida, oh...essa vejo-a passar por mim num Ferrari a 200 km/h... (bom, não falemos de carros que ainda ontem passei a vergonha de não conseguir subir numa rua com o carro xpto do maridão...e sim, foi a mãe da criancinha aniversariante que me tirou o carro daquela rua escorregadia sanguessuga mesmo à frente do meu filho que já pensava "sim, é a momy, what else??"... que nódoa).
Anyway...cá estou eu, à 1h20 da manhã mas fesquinha (e não é uma metáfora...está um frio de rachar "onde é que pára a Primavera???") a escrever-vos, just to say hello! (entre miomografias e sessões de fisioterapia ao braço por fazer... brrrr... vou adiando, here I am!)
No meio das minhas 1001 festas de aniversário e eventos afins, tipo deixa-um-deixa-o-outro-vai-buscar-um-vai-buscar-o-outro-vamos-para-outra-festa-vêm-de-pijama-a-dormir, não me posso queixar de falta de agitação e claro...a casa arrumadinha de tão desabitada estar. Anyway... há-de acalmar!!!
Deixo-vos aqui um texto do meu curso que me custou horrores... ainda não percebi bem se pelo tema ser um casamento...se por ser sobre sensorialização... descobri que na verdade sou péssima neste capítulo... não no casamento, note-se, na própria da sensoralização, que é escrever utilizando o menos possível a visão, recorrendo a outros sentidos, fazendo o leitor imaginar, sentindo também...qualquer coisa assim... acho que sou uma nódoa nesta matéria.
Cá fica então o Casamento no México
A manhã acordou cedo, como se o sol estivesse ansioso por mostrar o seu rosto. Mal abri a janela, um bafo quente embateu violentamente contra o meu corpo. Toda a paisagem invadiu os meus sentidos e entranhou-se fogosamente em mim.
Saí com um vestido leve e esvoaçante e calcei umas sandálias de tiras finas, daquelas em que me sentia descalça. A rua enfeitara-se também de alegria, numa mistura aromática de flores que a ladeavam em cortejo até à igreja.
À medida que me aproximava, aumentava mais o burburinho histérico das mulheres, contrastando com os passos apressados dos homens, arrastando os sapatos novos na terra batida. De repente, um galopar violento passou por mim levantando uma nuvem de poeira seca. Sacudi o vestido e continuei até ao átrio da igreja, repleto de vultos agitados e vozes nervosas, estridentes.
Pepe encontrava-se rodeado de dois amigos que o seguravam no cimo da escadaria. Os seus olhos vagueavam turvos no horizonte como um pássaro perdido e o corpo exalava o odor de lágrimas e tristeza.
“Deixou-me” - disse num laivo de dor numa voz rouca e sumida. Contou-me que Lupe acabara de fugir com o seu melhor amigo - um Mariachi que o apunhalou cobardemente pelas costas, num golpe certeiro e frio.
“Levou-a” - balbuciou e aos poucos vi os contornos do seu rosto inchar de raiva, um respirar carregado de ira.
Tentei acalmar a torrente de palavras enfurecidas que lhe transbordavam como se tivesse a boca cheia de água. Mas era impossível. Já lhe sentia o sangue a borbulhar no olhos, as mãos húmidas e cerradas, as pernas descontroladas, pulsavam por uma vingança de morte.
“Vou mata-lo” - rangeu entre dentes com um travo amargo de cólera. Travei, em vão, o seu corpo transpirado contra o meu, e quase lhe senti o enorme buraco aberto no peito que flamejava intensamente. Pepe abraçou-me como se fosse o último dia da sua vida, para depois as suas mãos tremulas sacudirem-me bruscamente para o lado. Montou o primeiro cavalo que viu e desapareceu, num galopar desenfreado em busca de um rasto de vida, da sua honra roubada.
The end :)