Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
s
“Tenho saudades tuas” gritou com o olhar, no acto irreflectido ao procura-lo. Só por 3 segundos. Para saciar o desejo de o ver.
Acenou-lhe ao longe. E ele devolveu-lhe o sorriso.
Um sorriso inexpressivo. Talvez forçado.
Não quis saber. Foi-se embora.
Por apenas 3 segundos. Segundos absortos em silêncios de uma despedida antiga, por acontecer. Há sorrisos que nunca mais voltamos a ver.
Seguiu em frente. Aquele já não era, há muito, o seu lugar.
Porque há lugares que descobrimos e amamos, mas que não podemos ficar. Ela já tinha amado aquele lugar. Mas agora, tão pouco o pode visitar.
3 Segundos de olhar. Segundos que preenchem o vazio da ausência. Olhar, só para parar de recordar. As recordações baralham, torturam. Há olhares que amamos sem perceber, entram-nos na alma, cravam-se no peito. Cegam-nos de prazer. Ela já amou aquele olhar. Mas agora os olhares escondem-se na escuridão, que é olhar sem ver.
3 Segundos bastaram. Para o beijar. Na boca, na língua, na pele. Beijar sem respirar. Há beijos que não se conseguem evitar. Ela já amou aquele beijo. E pensou que aquele beijo a amava também. E confundiu o seu beijo angustiado da partida, com a despedida. Fria. Silenciosa. Que o beijo dele tem. Há beijos, violentamente desejados em segundos perpétuos, ancorados em terra de ninguém.