Continuando o texto da semana passada, com esforço consegui que os dois falassem!
Conversas
- Por aqui?
- Podia perguntar-te o mesmo.
- Eu sempre vim aqui.
- Mas já não vens há algum tempo.
- Como sabes?
- Tenho vindo várias vezes, caminho na areia e fixo os olhos neste puf onde nos sentámos. Nunca mais voltaste.
- Há recordações que devemos apagar. Gosto da tua sweat, estás... diferente.
- Obrigada, vou jantar com um amigo e tirei o fato. Apagar porquê? Foi um fim de tarde agradável
- Agradável, sim, e desconcertante também. Foi nesse fim de tarde que os teus olhos escuros me perturbaram. Olhaste-me de lado e ficou um silêncio incómodo. Parecia que me beijavam.
- Então fui um incómodo?
- Ainda és, enorme, gigante. Mas não tens culpa, fui eu que pressionei, que te beijei, devo merecer esse teu afastamento.
- Não me afastei. Simplesmente fomos até ao limite possível.
- Não me irrites...Não gosto de limites, não me interessam para nada...
Olhe, traga-me mais uma imperial se faz favor.
- O que não te interessa, passas à frente, dizes o que queres, só mais um mês e vai passar...é assim para ti.
- Já passou mais de um mês, já passaram vários, devo ter-me enganado. E então? Pelo menos fui sincera, disse que gostava de ti ali, naquela altura, naquele lugar, era contigo que me apetecia estar.
- Não disse tudo isso, mas abracei-te, afaguei os teu cabelo ondulado, segurei a tua cara, deslizei os meus dedos pelas tuas costas... tu quase não me tocaste
- Foram gestos mudos, estranhamente íntimos e cúmplices, mas nunca disseste o que sentias,... sempre pensei que te sou indiferente, estavas comigo porque aconteceu, porque.. pode ser...
- Pode parecer, mas o meu coração não é de pedra.
- Jura? Quem diria...
- Estás a exagerar..
- Talvez, mas já desisti de te compreender, de compreender sequer o que se passou. A vida não pára, embora eu estivesse disposta a parar a minha só para estar contigo mais uma ou outra vez.
- Para quê?
- Para tudo, tudo o que não queria e agora quero, já me habituei à ideia, não tenho medo nenhum, faço o que me apetecer, sem limites, entendes?
- E depois? Voltas para casa?
- Depois? Depois é futuro, logo se vê. Pensas demais.
- Tu também devias de vez em quando
- Dispenso. Quero ser feliz e se isso implicar um pouco de loucura eu arrisco, entro na nuvem mesmo sabendo que posso colher tempestades. Agora tu preferes fugir, fingir que não se passou nada, ok, tu é que sabes, sobrevivo.
- Não quero que sobrevivas, quero que sejas minha amiga
- Amiga? Estás a brincar? Os amigos falam... nós disparamos um contra o outro.
- E o que sugeres?
- Nada. Neste momento mais nada. Queria que nunca te tivesse conhecido, mas isso já não dá. Às vezes queria esquecer. Outras não. Sei lá?
- E se te convidar para vires a minha casa outra vez? Aceitas?
- Convites...teus? Seria... estranho. Mas acontecendo... não sei, experimenta e logo verás.