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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Adoro dias sem horas.
Quando o tempo não ocupa espaço entre os momentos.
Dias onde não existem relógios de ponteiros a limitar instantes únicos e apenas o sol nos acena o desenrolar do dia.
Não há horas, nem minutos, para nada. Há apenas ir e voltar, ou ficar, se assim entender.
Guarda-se o livro apenas quando os olhos cansados pedem para os braços se espreguiçarem na areia, e o corpo dormir se sentir vontade.
E todos os momentos mágicos de conversas e gargalhadas, partilhadas com genuína alegria.
Adoro dias sem horas, que são aqueles que mais perduram.
Estes foram momentos dos últimos dias.
Por muitos anos que viva (e já passaram uns quantos), por muitas pessoas que conheça e por muitas ilusões e desilusões que tenha, continuo na minha: o melhor do mundo são as PESSOAS.
Não me falem em lugares maravilhosos na terra, manjares divinos ou objectos de desejo colossal. São as pessoas que me trazem felicidade. Pessoas com quem me cruzo na rua, acidentalmente ou por força do destino, com quem troco olhares, depois palavras, seguem-se beijos e abraços. Cruzam-se vidas.
Talvez tenha o terrível defeito de gostar tanto dessas pessoas e dessas pessoas gostarem de mim, de tal forma me cativam e agarram a alma. Para sempre. digo baixinho. Porque o "para sempre", sempre me assustou.
E desdobro-me para estar com quem gosto, da forma que posso e reconhecendo que não consigo chegar a todo o lado, que os braços não esticam o tempo nem alcanço todos os lugares.
Mas há surpresas na vida. Por acidente ou destino há surpresas fascinantes. E se há pessoas que dizem mal das tecnologias, eu sou daquelas que acordo todos dias e digo: ainda bem que temos isto! Encontrar amigas de há mais de 20 anos não era fácil, nem era sequer possível. Não havia emails, telemóveis... um mundo de anonimato para nos perdermos umas das outras. Para sempre, pensava. E o para sempre, que tanto me assustava, também foi contrariado.
Mais de 20 anos depois (quase metade das nossas vidas), pelas mãos das tecnologias e o esforço do nosso "treinador-pai-amigo", foi possível encontrar as pessoas com quem partilhei os anos mais divertidos da adolescência. Pessoas de quem me separei com a ingenuidade de que nunca as perderia. Pessoas que perdi, por anos a fio, sem nunca esquecer. Tínhamos como palco as linhas do campo e como pano de fundo o xadrez da rede de volei. Tínhamos os treinos diários, os jogos ao fim-de-semana, o caminho a cantar na camionete, os jantares em Almeirim, os estágios e torneios nas férias da Páscoa, tínhamos gritos de saudações entoadas, uma amizade desmedida, tínhamos tudo o que cada uma precisava e queria da vida.
Agora, entre jogos de volei na praia ao fim-de-semana, partilha-se ... vidas. Um tudo-nada que nos preenche o dia e o pincela de cor. O riso dos filhos que correm juntos na areia, a companhia dos maridos, dos namorados. Os cães! Partilha-se cada minuto que se respira, entre receitas culinárias e desabafos de alguém. Comemoram-se as vitórias, enterram-se as derrotas, fazem-se novos projectos, em conjunto e em separado. No grupo, há sempre alguem que pergunta, há sempre alguém que responde, há sempre alguém que está lá e ao mesmo tempo aqui, porque a sentimos tão perto. Aqui ao lado. Sim, há sempre alguém perto, que ri e faz rir, que ouve e responde. Para partilhar gargalhadas, dúvidas e medos. Há sempre uma de nós. E todas ao mesmo tempo. Há a companhia diária, o aconchego da certeza que estão lá, sempre que for preciso. E mesmo quando não for preciso, estão lá também! Mas é sempre preciso. Reconhecemos. Temos saudades. No nosso grupo, há sempre alguém.