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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Se tudo o que sentíssemos fosse amor.
Os olhos rasgavam as dúvidas escondidas e as mãos falavam soltas, sem pudor.
Brilhava no escuro a ansiedade da pele arrepiada. E os lábios, sequiosos, raspavam-se selvagens, por instinto, para depois perderem-se pelo corpo, deslumbrados.
Trocávamos em segredo as palavras invisíveis, que revelam as coordenadas de todos os sorrisos contidos. Sem horas, nem pressa. Vagueávamos, nómadas, cúmplices de cheiros e saliva.
Se tudo o que sentíssemos fosse amor.
A verdade era a nossa melhor fantasia. Inocente, genuína, impune de aspas e virgulas.
Surgia em linhas curvas, assimétricas, sem ponto de chegada ou partida. Transbordava desejo, loucura, emanava euforia.
Deitados sobre a areia contemplamos o céu imenso, infinito. O crispar das ondas ao longe, a sua inevitável rebentação em espuma. Não sabíamos ao certo que horas eram, tão pouco distinguíamos o sol da lua.
- Queres-me?- perguntas.
Se tudo o que sentíssemos fosse amor, esta pergunta não existia.