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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami

Hoje passei por ti na rua de raspão.
Tu não me viste, acho que não.
ías a olhar para o lado a conversar
Eu fiquei inerte, gelada
a seguir-te com o olhar.
As pernas ficaram presas ao chão
fingi que foi o salto que me fez parar
e não a aceleração
o nó na garganta, saliva da réstia de paixão.
Naquele instante vi-te a afastar
Ías feliz, com outra a teu lado a conversar
a inveja invadiu-me por não estar no seu lugar.
Sacudo a cabeça, digo a mim mesma, "basta"
Há muito que te apaguei da memória,
nem sei como te reconheci.
Entre nós não houve história
só um princípio e um fim.
No meio houve um vazio incómodo
que desisti de questionar.
Baixei os braços e deitei fora
como trapos velhos
que já não dá para remendar.
Agora tanto se me dá,
deixaste de me apetecer
e se pudesse te evitar
preferia a cegueira de não ver
a tua presença incolor a passar.
Porque já há muito que não te vejo.
És apenas um reflexo no meu espelho
pequeno, partido e gasto de tanto olhar.