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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Comecei ontem um novo curso de Escrita Criativa. Não é bem um curso, é um Workshop, whatever...comecei!
É um curso novo, cheio de gente nova (mas com a minha best friend claro!), num local novo (ok, o prédio é centenario no Bairro Alto, mas é novo para mim!)...só a palavra "novo" agrada-me de uma forma inexplicável... é uma pena ser apenas uma vez por semana...
Bom...e até as pessoas são novas...e aqui refiro-me à idade... na verdade, num grupo de 15 sou a 4ª mais velha...oh God... não estava à espera, confesso! Mas pronto... há factos contra os quais não posso remar!
Anyway, estou lá para me divertir, inventar histórias, personagens, o que me pedirem...para quem já fez de nuvem...acho que estou preparada para (quase) tudo!!
E o 1º exercício era escolher uma foto de um leque que nos apresentaram e escrever um texto sobre ela em 30 minutos. Quem me segue por aqui sabe que de qualquer foto me sairia rapidamente uma história, na verdade até várias e na confusão que se instala na minha mente sobre "escolher" tomo (quase) sempre a mesma decisão - escolho a primeira que me veio à cabeça. Percebo muitas vezes que não é a melhor, não é aquela da qual eu poderia tirar mais partido, ser mais eloquente, ou comovente...mas é a minha história compulsiva... e às vezes "convulsiva"...que é bem diferente, apercebi-me hoje nas minhas conversas inexplicáveis para a maioria dos mortais...adiante!
Gostei dos textos de todos, diferentes estilos, bem escritos, criativos... é tão bom ter um fim de dia assim!
Quanto à minha foto... escolhi esta mesmo, encontrei aqui http://ipt.olhares.com/data/big/89/892275.jpg
Acho que a escolhi porque não me identifiquei logo com ela... porque me repele a ideia de estar amarrada... na verdade podia ter escrito sobre isso mesmo, sobre a vontade de nos libertarmos de nós mesmos, de querer ser mais, ser muitos, ser paralelos... havia muito para dizer sobre este tema...mas lá está, fugiu-me a cabeça para uma história com personagens, simples, e...não, ele não está a suicidar-se a mandar-se para o mar (lá está, também podia ser)...e não, ele não é um aprendiz de marinheiro que se enrolou nas cordas do seu barco (lá está outra história...and so on...)... ele é um teenager tímido, incapaz de se soltar e dizer o que sente... more or less like this in a small story tale !!
Mas como aqui sou "mais eu" quero escrever algo diferente, algo que dificilmente escreveria numa 1ª aula onde teria de ler o meu texto ao grupo... confesso ... por algum motivo tenho pavor a psicólogos!!!
Aqui fica a versão "não-me-internem-por-favor-porque-eu-gosto-de-ir-às-compras" porque eu sou mesmo assim!
Amarras
Cruzam-se, desencontrados, por entre olhares fugidios,
aqueles que um dia puxaram as pontas soltas
e com nós ataram em surdina as suas vidas.
Fogem agora desenfreados, de um memória híbrida, gelados.
E rumam, ao seu lugar seguro.
Doridos, cansados, feridos.
Soldados vencidos.
Fingem, ignoram, calam, numa encenação contida,
que a liberdade os obriga.
Soltam-se as cordas, desfazem os nós,
seguem em frente num caminho escuro e frio.
Estão livres, perdidos num imenso vazio.
Soltos num campo de batalha.
Sem vida. Sem emoção.
Seriam as amarras paixão pela força com que prendiam?
E pensando-se soltos, eles caem de repente.
Como uma ferida antiga que abre e sangra abundantemente.
Perplexos olham os pés, aquela sensação dormente.
Encontram cordas. Envoltas, com nós repetidos,
e sentem-se novamente atraídos pelas amarras que os prendiam.
Curioso o destino errante de quem vive amarrado
a um instante de vida esquecido.