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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Chovia torrencialmente quando ela saiu do restaurante. Uma corrente de água descia veloz a rua íngreme.
Enquanto lutava com o chapéu contra o vento escorregou na calçada. Por atrás um braço forte segurou-a contra um corpo quente. Os cabelos despenteados não a deixaram ver de imediato quem era. Mas sentiu no seu pescoço uma respiração envolvente.
A chuva escorria pelo seu rosto pálido misturada com as lágrimas amargas, uma chuva fria, gelada, que teimava em não parar. Um chapéu grande preto abrigou-a do perigo, uns olhos negros prenderam-se nos seus e uma voz rouca sussurrou ao seu ouvido.
Há muito tempo que se cruzavam naquele restaurante. Olhavam-se. Sorriam. Sonhavam-se. Fugiam. Um dia, pensavam, talvez um dia.
Naquele dia o destino surpreendeu-os, como uma chuva inesperada. Deixaram-se ir juntos, impotentes, descontrolados, como a água que corria pela rua íngreme da calçada.
Chovia torrencialmente quando entraram no carro. Um temporal invadiu os seus corpos molhados, loucos de desejo, embaciaram os vidros, entrelaçados.
Foi uma inesperada e violenta tempestade.
O corpo, o chapéu, o carro.
Um abrigo.