«És como um grande silêncio…
És como um grande silêncio sobre a minha vida.
Um silencio imenso, amável, medonho.
Não é temor que eu tenha de falar,
é silêncio de óleo flutuando,
amaciando todos os contactos. Não vejo
senão melhor os gestos e a amargura
Da multidão que se desfaz, regressa,
tão numerosa e frágil, só este mais aquele,
este cruzando-se com aquele, agora ou nunca.
Um grande silêncio de imagens conhecidas,
de subtis, difusas transparências,
adivinhadas e entendidas na mesma paisagem do mundo.
Um abismo irremediavelmente preenchido.
Não é que já não valha a pena.
Nem que não haja um sentido nos vazios signos.
Nem que eu me abandone.
Nem que eu me deteste.
O amor. Um grande silêncio.
Uma ironia ao canto dos lábios. Tudo.
Amas-me e és como um grande silêncio de morte,
que nas veias para sempre me corria,
a esvair-se angustiosamente agora tranquila
pelo fino golpe da lâmina
algures em mim sangrando os fins da vida.»
Jorge de Sena
Não estou em baixo, isto não é nenhum desabafo...don' worry... (é terrível ter de me explicar)... este é apenas um poema que eu gosto!