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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Um dia encontras-me num lugar singular, imprevisto.
Chegas devagar e dizes-me:
- "Olá tudo bem?"- com a habitual voz coloquial, desprendida de significado.
Respondo-te com um sorriso aberto, algo tímido disfarçado. Murmuro:
- "Olá, tudo bem contigo?".
Não haverá lugar a qualquer resposta, nenhum dos dois está verdadeiramente interessado naquela pergunta, tão desprovida de sentido.
Um dia encontro-te no lugar mais recôndito, ou banal. E os dois, em frente ao outro, seremos dois estranhos repelindo orgulho.
Os olhos ainda se tocam intermitentes. Mas s palavras entre nós morreram de espera, miseráveis. Inúteis. Vagabundas.
Um dia encontras-me num lugar qualquer, e o espaço entre nós dois, ainda que minusculo, abrigará um silêncio do tamanho do mundo.
E eu até sou capaz de falar do tempo, e tu até és capaz de me dizer as previsões da meterologia. Ridículos.
Encontras-me, um dia, num lugar estranho, e serás tão estranho como um vulto distante, perdido.
Adoro dias sem horas.
Quando o tempo não ocupa espaço entre os momentos.
Dias onde não existem relógios de ponteiros a limitar instantes únicos e apenas o sol nos acena o desenrolar do dia.
Não há horas, nem minutos, para nada. Há apenas ir e voltar, ou ficar, se assim entender.
Guarda-se o livro apenas quando os olhos cansados pedem para os braços se espreguiçarem na areia, e o corpo dormir se sentir vontade.
E todos os momentos mágicos de conversas e gargalhadas, partilhadas com genuína alegria.
Adoro dias sem horas, que são aqueles que mais perduram.
Estes foram momentos dos últimos dias.
Por uma vez que fosse,
queria ter-te num contexto diferente.
Noutro tempo, noutro lugar, em coordenadas inexistentes num mapa, ou em qualquer parte do sistema solar.
Queria viver-te despido desses fatos escuros cinzentos, das frases e decisões correctas e da obrigações morais.
Dizer-te abertamente "quero-te", nesse preciso momento, sem mais nada, sem precisar de me explicar.
Queria perder-me contigo num espaço apertado, e sorrir-te deliciada, enquanto me afagas o rosto e me prendes o olhar.
E nesse espaço minúsclo onde nos perdemos, é onde nos temos um ao outro, únicos, diferentes, como se o mundo girasse só para nós, para o lado contrário.
Queria ter-te, por uma vez que fosse, perdido a meu lado. Enrolar-me em silêncio dos teus braços, enquanto a lua acorda entre as ondas do mar.