Nem todos os dias penso em ti.
Alguns imponho a distância, atando as mãos rebeldes com que te escrevo.
Por vezes deixo-te vaguear pelos recantos onde não me vejo.
Existes em mim, simplesmente. Mas não te penso.
Foste talvez um sonho feliz do meu passado.
E eu talvez ainda sangre um pouco de ti a cada passo, ou rasgue os lábios sequiosos com que te beijo no escuro.
Sei que me persegue o rasto suado do teu corpo esquivo, num compasso apressado, rouco de orgulho.
É assim que te lembro na memória dos meus olhos cansados. A tua pele macia entre os meus dedos, o olhar intenso, esfomeado de amor. Podíamos ter sido os amantes perfeitos, dizias. Houvesse em nós um pouco de calma para assustar os medos, ou coragem para derrotar os enganos. Mas o tempo avança rápido, curandeiro da sorte.
Agora, nem sempre penso em ti. Sabias?
Por vezes esqueço a dormência com que te amo.