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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Hoje estava a pensar num dos personagens do meu romance e lembrei-me de uma história de uma amiga sobre a (fraca) capacidade romântica masculina.
Em tempos a minha amiga conheceu um rapaz simpático, atraente q.b., e saiu com ele durante uns dias. Até que ele ficou farto de beijinhos e abraços e começou a fechar o cerco: chega! Pára tudo! E passou a atropela-la com a mesma pergunta romântica a cada dia que se encontravam: "É hoje que vamos para a cama? É hoje? É hoje?".
Há lá pergunta mais sedutora, capaz de roçar os limites sensoriais mais profundos e arrepiar a pele mais rija e firme?
Tipo, abre-se a porta e em vez de um ramo de flores vem aquele zumbido "É hoje? É hoje que vamos para a cama?" É hoje? É hoje?"... pffff
Ainda absorta em pensamentos, apeteceu-me, num acto de demência pura, dizer ao meu maior I love que o amava. Decido ser impulsiva, e mandar um sms à teenager (com a diferença que eu não escrevo com erros e com k em vez de q).
Depois de muito rodear o telemóvel, escreve-apaga-escreve-apaga, num rasgo de criatividade escrevi "Amo-te". Assim mesmo sem reticências, bonequinhos smiles ou corações <3 . Depois fiquei a olhar para o telemóvel com a ligeira impressão que tinha feito o maior disparate. Sacudi a cabeça "nãnãnã" e continuei a olhar, a olhar, a olhar... à espera que aquele objecto lindo e escandalosamentee caro fizesse um "plin"... Nada... continuei a olhar, a olhar... Uma hora depois aquele objecto demoníaco decidiu grunhir:"PLIN"! e ali estava a resposta carregada de amor e sentimento. Aliás, eu já disse que acho os homens mesmo românticos?? Ah não? Ok.
A aguardada resposta "Também te amo muito". Sem ponto, reticências, bonequinhos e ... justificações. E ali fiquei eu a roçar o ridículo a pensar PORQUE RAIO ELE DEMOROU 1 HORA A RESPONDER??? Sim, porque se ele não respondesse teria o benefício da dúvida "querida, mandaste? ohhh eu não recebi". Ok, isto seria demasiado inteligente e só uma mulher se lembraria deste teatro para limpar a sua pele. Ainda assim fiquei a a pensar enfurecidamente nas várias hipóteses de atraso:
1) Não tinha a certeza da resposta e ficou 1 hora a pensar
2) Não ligou pevides e depois achou melhor responder antes que eu o chateasse
3) Não lhe apeteceu escrever antes, estava ocupado com whatever, I don´t care...
4) Já não gosta de mim, sou uma mal amada... buáaaaa
Depois de assoar o nariz e limpar as lágrimas, dedilho simpaticamente "1 hora depois... é bom saber que sou correspondida". E eis que chega a emotiva resposta automática (só pode, deve estar lá gravada no telefone para quando não tiver pachorra para responder) "Só agora vi o sms"... And that's all folks, despedi-me com um singelo "ok" praguejando sobre a raça masculina "Aghhhhhh".
(já tinha saudades destes desabafos literários)
Não tenho tido "Tempo".
Chamamos-lhe "tempo" quando mergulhamos numa espiral de apatia e desgaste.
Os gestos rotinizados comandam as horas do dia e a noite seduz num sono profundo, enfeitiçado. Os dias passam, num modo de piloto automático e vou repetindo, para os outros, para mim própria, "Não tenho tempo"... Deixo o silêncio gelado apoderar-se de mim, trespassar-me a pele e rasgar-me a carne. Incomóda-me. Mas não reajo.
Sinto falta de escrever. O meu curso de escrita acabou, o meu contovai ser editado numa colectânea de contos, clap clap ... Mas... eu sinto falta de escrever. Escrever compulsivamente, viver nos mundos das minhas histórias, falar com as minhas personagens imaginárias, respirar fantasia e ilusão.
Ainda que me "falte tempo", vou participar pelo segundo ano conscutivo no NaNoWriMo e tentar avançar o máxmo no meu projecto-de-romance inciado há 3 anos! Um dia eu acabo!
Como dizia Fernando Pessoa:
"A literatura é a melhor prova de que a vida não chega"