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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Isco Manjerico
Num típico páteo de alfama, encontravam-se rostos alegres, espalhados em grupos de amigos. Era Junho, as festas populares saiam à rua, com as cores garridas das bandeiras, as fitas coloridas e os tradicionais manjericos.
Ao som de ruidosas gargalhadas, fumegavam já as sardinhas, servidas em fatias de pão e acompanhadas por copos de sangria. Era João quem as servia, sem ter mãos a medir para os inúmeros pedidos.
Alto e de cabelo curtinho, os seus olhos enormes azuis cintilavam um sorriso franco, próprio da juventude. Pelo canto do olho seguia Joana, que recolhia das mesas os pratos sujos, enquanto cantarolava as músicas das marchas liboetas que se ouviam nos autifalantes de rua. Joana abanava as ancas roliças, com um vestido curto bordado que lhe assentava como uma luva. João seguia-a, visivelmente embevecido. Havia meses que saiam juntos, mas ainda não tivera coragem de lhe fazer o pedido. Nessa semana tinha-se decidido e comprou um manjerico para lhe dar no dia de Santo António, com um poema dele escrito. Algo simples e sincero, que há muito guardava no peito, em sério risco de explosão. E escolhera a noite do santo casamenteiro, para lançar o seu isco e declarar a paixão.
Escrito para a Fábrica de Histórias.