Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Fábrica de Histórias

por Closet, em 24.06.12

 

Isco Manjerico

 

Num típico páteo de alfama, encontravam-se rostos alegres, espalhados em grupos de amigos. Era Junho, as festas populares saiam à rua, com as cores garridas das bandeiras, as fitas coloridas e os tradicionais manjericos. 

Ao som de ruidosas gargalhadas, fumegavam já as sardinhas, servidas em fatias de pão e acompanhadas por copos de sangria. Era João quem as servia, sem ter mãos a medir para os inúmeros pedidos.

Alto e de cabelo curtinho, os seus olhos enormes azuis cintilavam um sorriso franco, próprio da juventude. Pelo canto do olho seguia Joana, que recolhia das mesas os pratos sujos, enquanto cantarolava as músicas das marchas liboetas que se ouviam nos autifalantes de rua. Joana abanava as ancas roliças, com um vestido curto bordado que lhe assentava como uma luva. João seguia-a, visivelmente embevecido. Havia meses que saiam juntos, mas ainda não tivera coragem de lhe fazer o pedido. Nessa semana tinha-se decidido e comprou um manjerico para lhe dar no dia de Santo António, com um poema dele escrito. Algo simples e sincero, que há muito guardava no peito, em sério risco de explosão. E escolhera a noite do santo casamenteiro, para lançar o seu isco e declarar a paixão.

 

Escrito para a Fábrica de Histórias.

publicado às 21:45

Fábrica de Histórias

por Closet, em 10.06.12

 

 

Tudo isto é fado

 

É Junho, uma tarde amena que antecipa mais um Verão. A brisa suave sopra entre as ramagens das árvores soltando os meus cabelos longos. Há o verde imenso da folhagem que me cerca, preso a hastes frágeis de troncos de madeira.

É aqui que te espero, paciente, neste banco enferrujado de tinta lascada. Sem relógio que me guie, ou calendário que me prenda ao tempo. Sou só eu e este nosso lugar encantado. Mágico. Nostálgico. Brindado por raios de sol, num amarelo vivo, brilhante. Aquecem-me a pele clara, como se de mil braços se tratasse, envolvem-me num abraço único, aconchegante. É este brilho que me sossega, protege-me da tortura constante. Porque o sangue que me corre nas veias, agitado, grita saudade. No final do dia, quando o sol foge, toma conta do meu peito. Impossível ignora-lo. Fervilha de tal forma intenso que tinge este lugar calmo verdejante, num imenso vermelho. Vivo, ardente. Queima lágrimas de ausência, flameja o sorriso das lembranças. Como os sete castelos que construímos no céu. «Um para cada dia da semana» dizias na tua voz aveludada. Eram assim os nossos castelos dourados, sonhos impossíveis que planeámos na ingenuidade de crianças. Mas a realidade, crua, sempre foi tão diferente do nosso conto de fadas. Corremos os continentes em busca das promessas derrotadas, e em cada um enfrentámos as batalhas mais temíveis do tempo com os cinco escudos invencíveis que esculpimos em noites de céu azul estrelado. Defendiam-nos do destino que nos separava. Nós lutámos sempre, com as únicas armas que tínhamos: o desejo e eterna vontade. «Não te esqueço» dizias-me quando partias. «Lembro-te sempre» abafava no meu peito, enquanto te acenava.

Tem sido assim o nosso mundo secreto imaginado.Todas as noites te sonho, todas as manhãs te espero aqui sentada. De alma içada ao vento, entre o verde esperança que me ampara e o vermelho vivo do coração onde te guardo.

 

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias.

publicado às 23:20


Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Junho 2012

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930