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Fábrica de Histórias

por Closet, em 24.02.12

Desta vez não vai ser bem uma história. Quero dizer, vai ser talvez um prólogo, a história de uma história, na pior das hipóteses, o sonho de uma história. Desta vez conto uma história diferente, mas como já fiz rir, e eu própria já chorei a rir com ela, espero que sirva para o tema da semana "Façam-nos rir!".

 

 

 

Eu na città più bella


Já há algum tempo que ando com vontade de conhecer Itália. Sou uma verdadeira nódoa a geografia mas pensei assim numa viagem de comboio pelo sul de Espanha, passando lá por umas montanhas conhecidas de França que se chamam…. Google Google ok, Pirinéus (não sei se os comboios passam por lá mas isso não interessa para nada), depois um bocadinhozinho mais à frente (com um desviozinho pelo Mónaco para cumprimentar os Grimaldi) e chegava a Itália! Era por ali de certeza, quando ouvisse uns mafiosos a chamarem-me de bambina!


Bom, mas esqueçam, não vai ser nada disto. A ideia mesmo é ir de avião, de outra forma tenho sérias dúvidas que chegasse a Itália…

Como este ano não vou aos Alpes, fiquei excluída do grupo onde o meu marido está incluído, pensei que também merecia umas férias “minhas” em Abril. É justo! A propósito, estou a convencer uma amiga a vir comigo a Itália, mas se ela não quiser, eu vou na mesma. A ideia é ir de avião até Roma e alugar lá uma pensão para dormir nas duas primeiras noites para depois ir à aventura (claro que esta parte não conto à minha amiga, só assim para ser… emocionante!).


E perguntam-me entusiasmadas as minhas amigas, o que quero ver em Roma…

«Tutti!» Sei lá. A cultura não é o meu forte e só me saía o Vaticano (não tenho grande esperança que o Papa me queira receber, mas …), e vou ver Fontes, acho que há fontes lindas lá por todo o lado (se não é em Roma é noutra cidade qualquer conhecida). Eu gosto de água, por isso fontes parece-me bem!

Comunque, « o meu sonho mesmo é conhecer Roma e arredores de… vespa!» digo radiante.  

E neste momento as minhas amigas olhavam desesperadas para o chão à procura do último parafuso que tinha caído da minha cabeça… Não encontraram, che peccato!

«Sim, motocicletta vrummm vrummm, isso mesmo. Lá toda a gente anda de vespa! E andam na maior confusão, em sentidos proibidos, por cima de passeios, descem escadas, é o máximo! E eu não sou a única a fazer transgressões!» Continuava eufórica ignorando o seu ar alarmado. Claro que este pormenor da vespa eu também não preciso revelar para já à minha companheira de viagem… outra emoçãozinha!

 

Só há um piccolo problema: eu nunca conduzi uma vespa… Na verdade não faço ideia como se anda de vespa, ou de qualquer moto. Mas posso praticar cá antes de ir, certo? E se sei andar de bicicleta, patins em linha e fazer ski, também me hei-de desenrascar a andar de vespa, sono sicuro! Neste pormenorzinho o meu marido ficou ligeiramente preocupado e começou rapidamente a procurar seguros de responsabilidade civil no estrangeiro. Adiante.

Eu quero ir lá, ver a città più bella de … vespa! Sim! Eu quero andar de vespa em Roma. Pronto, já enfiei na cabeça. Onde vou dormir as outras noites e o que vou visitar decido lá depois, aceitando os conselhos dos amici italiani que se cruzarem comigo parlando quella língua meravigliosa!


E nos últimos dias vou um pouco à praia.

«Roma não tem praia» diz o meu marido pacientemente. «Ahh, não? Não interessa, vou na mesma, não é em Roma há-de ser nas redondezas, eu encontro!» Não sei é se vou de vespa, com a mala às costas não dá… Alugo um carro. «Como se diz carro em italiano?» pergunto-lhe. «Auto…» responde. «Ok, boa, essa eu decoro!»

 

E anche ora, tenho de praticar o puí bello italino! Vou arranjar uns amigos italianos no Facebook para praticar e se me arranjarem estadia em Roma ou na praia lá perto (e não me venham dizer que Roma não tem praia, non voglio sapere), ancora meglio per me!

 

 

(relaxem que já tenho uma lista de monumentos, museus e locais para visitar! E não perco a oportunidade de mandar uma moeda para a Fontana di Trevi ou de jantar uma Pizza fininha e crocante na Piazza Navona).

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias.

 

 

publicado às 00:01

Fábrica de Histórias

por Closet, em 19.02.12

 

Faz quase um ano que a Fábrica pediu explicitamente para "não contar uma história de amor" e eu, obediente, não contei, aqui

Hoje pedem-me para contar uma história de amor... então eu vou desvendar o resto da história que ficou por contar!

 

 

 

A história de amor por contar

 

Porque a vida não é uma história de amor, ela preferia não contar.

Guardava para si o abalroar de recordações do acidente que a atropelou. O passado que se fez presente, de repente. O destino que o trouxe nos abraços novamente, para o levar pouco tempo depois.

Numa avalanche de emoções, ele voltou sem avisar, jorrando a loucura dos improváveis, desejos de insatisfações. Como antes, a intensidade dos instantes impossíveis, a tortura das despedidas. Tudo outra vez, em ebulição.

 

Recostava-se para trás no velho cadeirão, puxava a manta de xadrez vermelho e bebia mais um golo do chá, já frio. Sente um arrepio, do tempo que faz lá fora, ou seria dos quilómetros de tempo que os separava agora. O silêncio mórbido que o destino lhe impôs.

Recordava os seus olhos meigos avelã e a sua voz aveludada. Sentia-se aconchegada. As pernas compridas e desengonçadas que nas dela entrelaçava. O sorriso espontâneo, que lhe rasgava o olhar, as músicas que lhe cantava ao ouvido sem parar. Tantas memórias de noites ao relento acordados, onde o céu era tão perto quanto o calor dos corpos abraçados.

 

«Onde estás?» perguntava agora, perdida num labirinto de contradições, angustiada.

Ali, longe de tudo, no tecto do mundo, sentia-se simultaneamente prisioneira e abandonada. Das horas que perpetuavam o espaço, as que antes lhe esculpiram o corpo com lábios quentes e a envolveram num eterno abraço. Respirava com dificuldade. Porque a realidade e a tristeza galopavam ao mesmo passo, lado a lado. E o caminho que escolhera era irreversível, para sempre enevoado.

Tudo era tão pouco, tão efémero. A frustração de perder de novo, a sensação que nunca o teve, antes de o deixar. Era uma triste história de amor, partida em mil pedaços por colar.

 

«Doí-me o peito viver sem ti, sabendo que existes, aí » solta em palavras humedecidas pelo frio do ar.

E sente que ele um dia vai voltar, sem dizer nada, sem avisar. Mesmo sem compreender, sabe que lhe abrirá os braços, cansados, de procurar refúgios para o vazio que só ele pode preencher.

 

 

Escrito para a Fábrica de Histórias

publicado às 18:34

Sem saber

por Closet, em 14.02.12

 

 O Pablo sempre foi uma excelente companhia!

 

  

(imagem retirada do site da Bertrand)

 

 

 

 

publicado às 00:03

Fábrica de Histórias

por Closet, em 05.02.12

 

 "Automat" de Edward Hopper

 

Café curto 

 

Talvez faltasse música naquele bar. Quer dizer, havia música, mas tocava baixinho numa melodia triste e apagada.

Faltavam risos de conversas, o trocar de beijos e abraços. Até os amuos e birras de um casal ao lado. Nada. O bar estava sozinho. 

 

Podia ouvir o bater da colher na chávena enquanto mexia. Um ruído metálico, agressivo, como se alguém discutisse consigo. O tilintar da colher dizia-lhe para parar, mas como que enfeitiçada continuava a mexer o café, repetidamente, por castigo. Como se quisesse ouvir um pouco mais aquela voz que a perfurava, no silêncio abrupto que ocupava aquele espaço vazio.

 

Envolvia o café, já sem a espuma à superfície que a iludia. Reconhecia, naquele líquido curto escuro, o caminho sinuoso que percorria. O açúcar, que rapidamente desaparecera, o doce que fora engolido pelo amargo, como a sua vida.

 

Parou subitamente de remexer todos aqueles pensamentos que a incomodavam, as memórias que a confundiam. A respiração no seu pescoço, os braços pelas suas costas, a despedida. Queria afoga-las a todas no café que fumegava à sua frente. Mas não conseguia.

Bebeu-o de um só trago, esperando que o líquido ardente pudesse queimar tudo o que sentia.

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

publicado às 22:56


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