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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Ser perfeito
E se um dia acordasses e todos à volta fossem diferentes de ti?
Se ninguém tivesse orelhas, ou tivessem só um braço, ou tivessem apenas 4 dedos?
Quem seria realmente “deformado”?
Num mundo onde não somos todos iguais (e que triste seria sermos todos altos, elegantes, de olhos azuis, pele morena, de voz grave, …), se nada nos pudesse distinguir, nada podíamos também valorizar e evoluir, aprender como as idiossincrasias de cada um nos torna únicos e especiais.
Contaram-me a história de um cão que nasceu sem braços, ou deverei dizer sem as patas dianteiras, porque é de um cão que se trata. Na verdade nasceu com uma pata dianteira mas, por ser “anormal”, teve de ser amputada. Este cão foi rejeitado pela sua deformidade pela própria mãe e pelo dono, colocando em risco a sua sobrevivência. Mas apareceu uma mulher, poderei chamar-lhe visionária, que conseguiu vê-lo mais além, não como um ser “anormal” mas como um ser diferente e especial. Decidiu cuidar dele e ajudá-lo a viver com as suas características próprias, aquelas mesmas que o tornam único. Com bastante treino, em seis meses o cão aprendeu a andar erecto, como um humano, com as duas patas que tem. Aberração? Porquê? Ele agora anda por si, é autónomo e feliz. Porque teve fé, foi este o nome que a sua visionária lhe deu - “Faith”. O cão corre o mundo e é um exemplo de como se pode viver, ser amado e feliz, sendo diferente.
Num mundo ideal não existiriam "deformidades", mas "características" e assim amaríamos incondicionalmente todos os seres tal como são, independentemente das suas supostas diferenças.
Bastava pararmos para nos questionar “o que é ser perfeito?”
Será ter um corpo perfeito ou uma alma perfeita? Será ter os parâmetros “normais” e estereotipados físicos e comportamentais, ou ter a capacidade de agarrar a vida e amar com garra o mundo em redor, ainda que muitos invisuais continuem a chamar-lhe “deformado” ou “deficiente”?
Poderia falar de pessoas, que infelizmente o assunto não seria totalmente alheio. Mas a causa de que falo aqui é dedicada aos animais abandonados em canis e gatis por serem doentes, diferentes ou “deformados”. E há tantos… Tantos à espera de visionários que acreditem neles, que os amem genuinamente, capazes de ultrapassar barreiras e fraquezas e assim, torna-los verdadeiramente diferentes pelo simples facto de serem únicos, especiais e felizes.
Texto escrito para a Fábrica de Histórias
A história de Faith pode ser lida aqui.
http://hbjunior19.wordpress.com/2011/08/19/um-cachorro-chamado-faith-fe/