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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
- Pinta-me de todas as cores - pedia-lhe quando a brisa lhe soltava os cabelos e sentia uma incrivel vontade de voar.
Pinta-me de verde como os campos de relva macia onde nos sentámos naquela tarde em que nos conhecemos.
Depois de amarelo, como os raios do sol que nos acordou de manhã, quando adormecemos naquela praia escondida.
Pinta-me de azul, escuro e brilhante, como era o mar nessa noite pincelada de loucura e magia. Os corpos despidos na areia, por detrás de um rochedo, isso pinta-me desse castanho-areia, onde deixei de distinguir o teu corpo do meu.
Pinta-me de rosa, a cor do vestido sem costas, que elogiaste no nosso primeiro jantar romântico, depois pinta o branco das estrelas que brilhavam através da janela do teu sotão, lá ao fundo, no céu distante.
Pinta o vermelho do baton que insistes em devorar nos meus labios com a desculpa que eles já têm cor. Pinta o laranja quente e sófrego do nosso por-do sol. Pinta-me de roxo como a capa do caderno onde escreveste aqueles versos de amor. "nunca te vou deixar" as palavras pinceladas, secas, embriagadas. Pinta-me, peço-te. Mesmo que seja de mentiras, dá-me cores.
O vento parava de repente e ela largava ao mar a tela, escura, como uma coroa de flores.