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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Um dia sonhei que tinhas voltado. Assim de repente, sem avisar. E, ao ver-te, corri para aos teus braços desajeitada, como fazia no passado. Com o coração na boca, a querer saltar. Não pensei em nada, o mundo inteiro desapareceu com o calor do meu corpo no teu.
Beijámo-nos como se o tempo fosse um brinquedo estragado, com pilhas gastas, parado. Esquecemo-nos do tempo e o tempo esqueceu-se de nós. Naquele carro apertado, viajámos apressados para tapar o buraco profundo da saudade. Falámos tanto. Com a língua, com os olhos, com as mãos. Atropelámos palavras com os lábios sedentos, rompemos frases com abraços que não aguentaram esperar. Transpirámos verbos, esquecidos, que já não sabíamos conjugar.
Um dia sonhei que tinhas voltado, mas um terremoto gigante abanou o chão onde pisava. Confusa e assustada, fugi da estrada para um abrigo confortável, seguro. E quando saí cá para fora, estava tudo enovado, partido, escuro. O mundo estava virado ao contrário e tu tinhas desaparecido, sem avisar. Não sei se morreste outra vez, se voltas um dia, de verdade, ou se te voltarei a sonhar.