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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
(...)
Há instantes em que o tempo pára como por magia, como se abrisse uma fresta por onde espreitamos e, admirados, vemos o que até então era invisível.
Eles sentiram que estavam a olhar pela mesma fresta de tempo. E num monólogo interior questionavam-se se deviam parar.
(...) não é só quando se tem dúvidas que se tem medo e foge. Quando se tem certezas também é assustador. Hoje vim descobrir o que ainda sentia por ti, se era possível ser assim tão forte, tão demolidor. E tive medo, tanto que nem imaginas… Mas agora já não vou fugir mais. Quero-te para mim. Quantas hipóteses existem de duas pessoas se reencontrarem passado tanto tempo e voltarem a sentir algo tão forte?
As bocas entregaram-se como no primeiro beijo, com a sede do desejo e a ansiedade de uma espera eternamente adiada. Como se a terra tivesse parado de girar, ali pairavam os dois, ao relento de corpos entrelaçados, sem saber qual era a pele de um e do outro, enquanto a vida por dentro deles pulsava desassossegada ao acaso. Numa respiração acelerada, sem fôlego, fizeram amor com o tempo, aquele que os tinha há muito abandonado. (...)
Podia dizer que a vida destes dois tinha parado aqui neste preciso momento. Ou melhor, que tinha recomeçado.
por mim em Fresta do Tempo
Dorme sereno enquanto ela fica a observar-lo. O corpo largado no quarto sombrio e triste. Percorre o braço macio até à mão. Entrelaça os dedos nos seus e aconchega-se a ele, mais um pouco. Respira o seu perfume amadeirado rente ao pescoço, como um incenso calmante. Pergunta-se se ele sente o calor do seu peito despido nas costas frias, a sua pele a roçar na dele, as pernas encaixadas como as peças de um puzzle. Será que sente que ela está ali? Será que ele está mesmo ali? Já não distingue a realidade da fantasia. Quando a noite incómoda impede-a de dormir, ganha fôlego no abraço que tacteia sozinha no escuro.