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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Era ali que ela deixava o seu coração a bailoiçar.
Empurrado pela brisa do vento, espelhado na superficie da água. Descalço, ao relento.
Para a frente e para trás. Em movimentos irregulares.
Baloiçava, açoitado, pelos dias que lhe viciaram a alma, confusa, envolvida numa alegria estonteante.
Para a frente e depois para trás. Sem sair do lugar. O coração baloiçava sem parar.
Sedento do sorriso que lhe respondia sem pensar. Aberto e genuíno. Dos braços em concha onde desaparecia sem notar. Quente, perdida naquele mundo de abraço. Na saudade gelada que deixa o abandonar.
E ela deixava, deixava o seu coração sozinho a baloiçar. Ora para a frente, ora para trás. Às vezes depressa, outras devagar.
Revivendo a aceleração de momentos tão intensos como escassos, mas sempre rápidos demais. Sempre marcados pela despedida, forçada, sofrida. Nunca sabiam como, nem quando, podiam voltar atrás. Viver de novo. Mais uma vez. Entregar as mãos, os lábios, os corpos. Parar o baloiço de uma vez... Não sabiam como. Nem quando.
Por isso era ali que ela deixava o seu coração a baloiçar, no impasse do talvez.