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Fábrica de Histórias

por Closet, em 31.10.10

 

Mel, flores, perfume e borboleta

 

“Shiuuuuuuu”

Sussurrei-te levemente ao ouvido, acariciando o teu rosto de mansinho para te acordar devagar. Afastei o teu cabelo que dormia desalinhado, sobre os olhos ainda fechados que se abriram, como por magia, quando lhes toquei com os lábios.

“Vem” disse-te na minha voz de mel, com que te costumo acordar. Era de noite, eu sabia, mas tinha chegado a hora, o dia, em que eu tinha de te levar.

Olhas para mim estremunhado, e sorris desajeitado, só de me ver ali, debruçada no teu peito, deitada na tua cama, como se tivesse dormido lá. Sem fazer perguntas, percorres lentamente os meus canudos loiros, enfeitados com flores de todas as cores, escolhidas cuidadosamente só para te enfeitiçar. 

Depois tocas-me suavemente no pescoço e puxas-me para o teu corpo, ainda quente que parece incendiar. Ansiosa, luto por não me deitar a teu lado, quando eu quero desta vez é levar-te para outro lugar. Dengoso, roças a boca, ardente, na minha pele perfumada pela fragrância que te atrai. Não sabes que é o magnetismo que uso para te encantar. Fujo para trás, mas com cuidado, para que não percas o meu rasto. Deixo-te a farejar os meus sentidos, de olhos fixos, vidrados, e os lábios na mesma linha dos meus. Continuo a seduzir-te, com o mel da minha boca, escorrendo sedenta por te beijar.

E nesse momento enfeitiçado, os teus braços despidos envolvem o meu peito, aconchegado, e sentas-te junto a mim. Agarras-me com tanta força, que não sei onde o teu corpo começa e onde acaba o meu, como se tivesses medo de me deixar. Abraçados, o vestido transparente  esvoaça pelo céu de tela escura, repleta de pirilampos que namoram as estrelas às escondidas do luar. Tu não sabes que é magia, eles estão aqui neste dia, só para te fascinar.

Naquela noite encantada, também eu estou enfeitiçada e já não me importo que o mundo vá acabar. Tu estás ali comigo é tudo o que eu preciso, eu hoje vou-te levar. Nas minhas asas de borboleta voamos distante, para o reino do meu castelo, que ergui para nós à beira mar. O reino onde os ponteiros do relógio, rotineiro, pararam o tempo, obstinados, inconsequentes. Pararam para que ele nunca acabe, dure para sempre o tempo de te amar.

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

publicado às 23:43

Voltar a trás

por Closet, em 28.10.10

 

Podemos voltar atrás? Diz-me que podemos voltar atrás, só uma vez.

Tu não me deixas desamparada, eu corro atrás de ti como uma louca. 

Nada nos vai separar. Diz-me que queres voltar.

O amor não morreu, vive revolto, urgente, deixa-me voltar atrás, só mais uma vez.

Viver tudo de novo, a intensidade de chegar, de me envolveres nos teus braços compridos, quentes.

Diz-me que vais lá estar para me receber.

Desejar-me, alucinado de prazer.

Esse amor, adiado, sobreviveu. À dor, à distância, à derrota.

O amor esteve internado, em coma, intoxicado, mas não morreu.

Diz-me que podemos voltar atrás, só uma vez.

Começar de novo, o que não acabou e ficou suspenso no ar.

Pairou com o pó do tempo, num tecto gigante, envolto nas teias da incompreensão

Enredado, na desilusão que o mortificou por dentro

Num espectro vaziu, gelado, abandonado.

Sobreviveu! Imune ao calendário monótono, aos dias e noites sós.

Aparece, ferido mas vitorioso

Feroz e genuído, como antes, de paixão e embriaguez

Por isso diz-me, só hoje, 

que podemos voltar atrás, outra vez.

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publicado às 22:52

Dor de espera

por Closet, em 27.10.10

 

Há uma dor de espera acorrentada a um beco sem saída.

Pronfundo, imenso, gigante.

Não é saudade de uma dor antiga, fustigada pelo cansaço do tempo, envelhecida.

É uma dor recente, de uma espera nova. Ou rejuvenescida. Doce e insana. Dormente. 

De um tudo pefeito, que se desejou tanto e nunca aconteceu.

Há uma dor de espera enorme, dividida. Entre o que se quer e que nunca se poderá ter.

É uma dor encarcerada noutra vida, perdida, também presa de dor.

A dor que espera, e desespera.

Que anseia e receia.

A dor de embrutecer sem saber. 

Há uma dor de espera, descontrolada. Louca, irrompe o corpo, desventra o desejo incontido.

Inflama, rasga a carne, cicatrizada pelo fel da vida

Ferida, da espera acorrentada, que sangra pelo que não foi.

publicado às 23:42

Sai da frente!

por Closet, em 26.10.10

 

 

Sai da frente! Não quero olhar para ti.

Odeio o teu cheiro, as tuas palavras, o teu olhar irritante

Não suporto ouvir-te falar, a tua voz,

O contorno do teu corpo num andar vacilante.

Não quero que me olhes, provocante.

Não quero saber de ti.

Sai da frente!

Não fiques aí, parado na minha frente.

Não suporto o teu sorriso esboçado, a roçar o indiferente.

Quero acabar este teatro

A encenação mirabolante que nos prende.

A tua voz rouca, gasta, arrastada

a minha boca molhada, sedenta por ser beijada

a pele embriagada na tua, sequiosa

as mãos a deslizarem numa dança nervosa

o corpo destilado, num prazer inconsciente,

A euforia da fantasia

A ilusão demente

Sai da frente!

Sinto-me a desejar-te, novamente.

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publicado às 23:50

Discursos ridículos

por Closet, em 26.10.10

 

Gostava de comprar um tradutor automático para todas as frases disparatas, mal amadas, aquelas cobardes que se dizem erradas, quando se quer dizer outras totalmente diferentes mas que são acometidas de um orgulho embrutecido…

Por exemplo:

"olá, já voltaste?" = "até que enfim, nunca mais vinhas"

"quanto tempo estiveste fora?" = "bolas, tanto tempo, senti saudades tuas…"

então, como foi a viagem?” = “gosto de te ver por aqui, sabias?”…

"não sei porque te estou a contar isto" = "apetece-me tanto falar contigo"

....

e poderia continuar numa lista mirabolante de discursos paralelos orgulhosamente absurdos e ridiculos...

Eu sou uma pessoa sincera, gosto de dizer o que sinto e não compreendo sequer conversas destas sem sentido ... por isso doi-me a alma se, por vezes, tenho de entrar em certos jogos de palavras mascaradas e feridas.

 

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publicado às 00:57

escrita

por Closet, em 25.10.10

O meu curso de escrita é, acima de tudo, um escape, uma fuga, "de e para mim"... era assim que o definiria se mo pedissem. Não me ensinam a escrever, mas a sair de mim, a explorar a minha imaginação, trabalha-la, baralha-la, ir mais além... 

Confesso que cada vez estou mais exigente comigo e não consigo escrever um texto sem o reescrever 300 vezes, as vezes que tiver oportunidade de olha-lo de novo, vou alterar sempre aqui e ali...  e quando volto a lê-lo acho-o sempre terrivel, enfadonho!!

Esta semana vou discutir os primeiros trabalhos: uma história de 5 páginas, e outro sobre pontos de vista... e já estou a encontrar um monte de erros, e já me apetece inventar uma bruta dor de dentes... aiiiii...pronto, eu consigo, eu consigo!!

 

Voltanto à parte boa do curso, e não, não é discutir o que escrevemos (que torturaaaaa)... , hoje escrevemos sobre cores que víamos em musicas. Isso mesmo, concretizar cores na musica. E descreve-las... Eu até me inspiro imenso em musicas, normalmente com letras veja-se, mas traduzi-la numa cor? Lá tive de pintar um cenário para cada melodia. Desde uma criança a saltar descalça na areia quente a construir o castelo dos seus sonhos em beges mesclados, a um senhor idoso, de mãos engelhadas, que via através da janela o entardecer num céu azul pálido... tudo se inventa!

Depois fez-se o mesmo para um quadro, descrever uma cor através de um quadro. Parece tudo estranho, mas saem textos... diferentes, ideias por onde se pode começar a trabalhar! E em 3 minutos, claro!!!

O meu quadro foi este auto-retrato de Rembrant, no postal que me deram o foco de luz estava mas dourado...

 

Um dourado brilhante que atrai o olhar e suga-nos para o canto surdo e sem vida.

Um foco de luz afasta-nos do importante, do que comunica. Dos olhos escurecidos e mortos, da boca inerte e sombria.

Apenas o dourado é pincelado num ponto esquecido do rosto despido e vaziu.

 

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publicado às 23:40

Fábrica de Histórias

por Closet, em 24.10.10

 

O Bar sozinho 

 

Estava um agradável fim de tarde de Setembro, correndo apenas uma brisa ligeira. O sol descia em direcção ao mar e os largos cadeirões de madeira branca almofadados pareciam ainda mais vazios. Até os alegres chapéus de palha naquele final do dia pareciam tristes. Talvez faltasse música naquele bar. Quero dizer, havia música, mas tocava baixinho. Talvez porque não se ouvia risos de pessoas a conversar, a trocar beijos e abraços. Não havia vida. O bar estava sozinho.

De repente a música fez-se ouvir mais alto, quando um rastejar de passos pesados pisaram o soalho de velhas tábuas de madeira seca pelo sol. Era um sujeito alto e corpulento, de fato escuro, que atravessava os cadeirões do átrio em direcção ao balcão do bar. Passou sem olhar em redor. Apoiou-se no balcão com mãos firmes.

Ordenou com uma voz grave forte - “Um whisky, se faz favor”.

A música acalmou novamente quando o whisky lhe foi servido num copo largo baixo. Sem hesitar, bebeu tudo de um só trago, pousando o copo no balcão e deixando cair o corpo cansado no banco de pé alto. O seu copo acompanhava a expressão derrotada do seu rosto. Devia ter cerca de 45 anos. Sobrancelhas fartas e carregadas, olhos escuros fixos no balcão, mas ausentes. O cabelo era um emaranhado desregrado, que puxava constantemente para trás, em movimentos repetidos.

A música subiu novamente de tom com o aproximar de uma sombra esguia. Um corpo feminino, elegante, percorreu o bar em passos suaves. Tinha um vestido azul de linho pelo joelho que esvoaçava enquanto andava. Um decote redondo denunciava um peito pequeno e bem delineado, sobre o qual baloiçavam longos cabelos lisos escuros. Tinha talvez uns 30 anos, não mais do que isso, mas o seu rosto sereno aparentava a calma de uma mulher mais madura.

Sentou-se ao lado do homem, sem dizer uma palavra, mas via-se que entre eles existia uma história antiga. Trazia consigo um livro de capa branca, não consegui ler-lhe o título. Pousou-o no balcão e, de costas para o bar, apoiando-se num cotovelo, ficou ali pensativa a olhar o mar fitando o infinito.

_____________________________

 

Desci as escadas de cimento em direcção à praia, já o sol se escondia sob o mar no horizonte. O bar estava visivelmente abandonado de gente, exactamente como eu precisava. Tropecei por entre os cadeirões de madeira branca que tantas vezes me acolheram, mas desta vez não parei a olha-los. Deixavam-me demasiadas recordações de fins de tarde ali passados, não sei se perdido se achado.

Segui em frente afastando da cabeça esses momentos que me perseguiam. Numa mesa ao longe encontrava-se apenas uma mulher que bebia uma imperial enquanto folheava um livro. Pressenti o seu olhar pousado nos meus passos a caminho do balcão.

O mesmo empregado de sempre recebeu-me esboçando um triste sorriso de simpatia, que mais me parecia de condolências. Lia nos meus olhos a agonia que me acompanhava.

- Um Whisky se faz favor – Pedi-lhe baixando os olhos para a tábua corrida do balcão. Não me apetecia conversar naquele dia.

Bebi o whisky de um só trago, esperando que o álcool pudesse queimar todo o desespero que sentia.

Dei conta que ela tinha chegado pela mudança de expressão no rosto do empregado que novamente sorria. Susana não tinha confirmado, mas ali estava ela ao meu lado, deslumbrante num simples vestido de alças azul pelo joelho e os cabelos maravilhosos, longos, a caírem-lhe pelos ombros despidos. Mal sentou-se ao meu lado, percebi para o que vinha. Trazia o livro que lhe tinha oferecido e pouso-o no balcão calmamente junto ao meu copo. Sem dizer uma palavra, ficou ali parada, com um braço encostado ao balcão, virada para trás, olhava o mar como se fitasse o infinito. Ela gostava de agir assim enigmática, para me perturbar, deixar-me à deriva sem saber o que dizer ou pensar. Eu não a queria deixar, nunca, arranjaria maneira de lhe provar que eu era o seu destino.

- Porque vieste? – Perguntei-lhe ao ouvido.

_____________________________________

 

Fiquei ali parada por momentos a observar o Rui. Ainda hesitei. Nem a brisa do mar era capaz de me empurrar para entrar. Vê-lo assim, a beber desorientado, decadente. “Acabado” pensei. Contornei os cadeirões de madeira branca passando os dedos pelas suas almofadas de tecido áspero, seco pelo sol do Verão. Também a nossa relação tinha secado, sabíamos bem.

Pensei nas tardes que passámos lá, espreguiçando os corpos, deliciados, ao final do dia. Ele não me deu ouvidos quando lhe disse que era só durante o Verão. Eu expliquei-lhe, vezes sem conta, e ele acenava que eu tinha razão. A vida, a minha e a dele, eram duas paralelas sem ligação possível, disse-lhe constantemente. Mesmo assim ali estava ele a beber como um desvairado, puxava para trás o cabelo que lhe caía desgrenhado pelo rosto. Há quanto tempo não cortaria o cabelo? Pensei naquele momento, vendo o seu ar desleixado.

Finalmente arranjei coragem para entrar, já o sol desaparecia engolido pelo mar e a noite fazia-se escura.

A sala estava vazia. Apenas uma mulher, talvez da minha idade, de cabelo claro ondulado, encontrava-se, a ler um livro e a beber uma imperial numa mesa ao fundo. Baixou os olhos quando entrei, mas senti que estava a observar cada passo que eu dava enquanto me dirigia ao balcão. Sentei-me ao lado de Rui, que amei e desamei no mesmo Verão, e agora me perseguia. Retribuí um leve sorriso para o empregado que o atendia. Não lhe disse nada, acho que não encontrava mais palavras para tudo aquilo. Apenas pousei o livro que me enviou no dia anterior, queria devolver-lhe, não estava interessada em ler sobre uma Ilha onde se vivia para amar, se ela na realidade não existia. Recostei-me de costas no balcão de madeira e fiquei a olhar o mar ao longe, perguntando-me quando acabaria tudo aquilo. O céu escuro caia sobre o mar calmo. A madeira estava fria e senti um ligeiro arrepio, acentuado quando ele me susurrou ao ouvido:

- Porque vieste?

Olhei-o nos olhos com um isto de desilusão e desalento

- Rui, a vida não é um conto de fadas. Isto tem de acabar, somos ambos casados e sabes que este amor só existe porque é um fruto proibido.

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

publicado às 17:38

«espero curarme de ti»

por Closet, em 24.10.10

Como ando numa onda de ler poesia em espanhol (cof cof)... bom, sempre gostei de poesia, muito mesmo... sorry quem não está habituado a vê-la por aqui! Deixo-vos o poeta mexicano Jaime Sabines com um dos seus mais românticos poemas. Mais uma vez, se quiserem ouvir desliguem a Lilly Allen, em baixo no MixPod (no worry, já a avisei que é por uma boa causa!!).

 

 

«Espero curarme de ti en unos días. Debo dejar de
fumarte, de beberte, de pensarte. Es posible.
Siguiendo las prescripciones de la moral en turno. Me
receto tiempo, abstinencia, soledad.

¿Te parece bien que te quiera nada más una semana?
No es mucho, mi es poco, es bastante. En una
semana se pueden reunir todas las palabras de amor
que se han pronunciado sobre la tierra y se les
puede prender fuego. Te voy a calentar con esa
hoguera del amor quemado. Y también el silencio.
Porque las mejores palabras del amor están están entre dos
gentes que no se dicen nada.

Hay que quemar también ese otro lenguaje lateral y
subversivo del que ama. (Tú saber cómo te digo que
te quiero cuando digo: "qué calor hace", "dame
agua", "¿sabes manejar?,"se hizo de noche"... Entre
las gentes, a un lado de tus gentes y las mías, te he
dicho "ya es tarde", y tú sabías que decía "te
quiero".)

Una semana más para reunir todo el amor del
tiempo. Para dártelo. Para que hagas con él lo que tú
quieras: guardarlo, acariciarlo, tirarlo a la basura. No
sirve, es cierto. Sólo quiero una semana para
entender las cosas. Porque esto es muy parecido a
estar saliendo de un manicomio para entrar a un
panteón.» Jaime Sabines

 

 

publicado às 10:56

esta noche.....

por Closet, em 23.10.10

Puedo escribir los versos mas tristes esta noche.....

 

Podem carregar na pausa do Mixpod, sorry Lilly Allen... para ouvir recitar Pablo Neruda:)

Este é o meu poema preferido dele, incomparável e inesquecível.

 

«Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo : 'La noche está estrellada,

y tiritan, azules, los astros, a lo lejos'.

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.

La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.

Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche immensa, más inmensa sin ella.

Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.

La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.

Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.

Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos arboles.

Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto pero cuánto la quise.

Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.

Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.

Es tan corto al amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,

mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque ésta sea el último dolor que ella me causa,

y éstos sean los últimos versos que yo le escribo»

Pablo Neruda

publicado às 00:40

Click!

por Closet, em 22.10.10

 

Segundos de olhares raspados.

Prenderam-se num momento único. Click! Como o disparo de uma máquina. Os dele, escuros, ousados, perfuraram os dela, vagabundos e tristes.

Pousaram um no outro magneticamente, fotografaram-se. Click! Envergonhados, baixaram-os fingindo não perceber.

Não resistiram e, embaraçados, um e outro, voltaram a olhar-se apressados, raspando o olhar outra vez.

Click! A melodia de um olhar que se prende e queima, um momento que incomoda tanto como faz apetecer. E viram-se os dois a desejar mais uma vez o olhar penetrante, que raspava o desejo de conhecer.

Que loucura, pensaram ambos. E olharam para o lado, pegaram no telefone, rodaram-no entre os dedos inquietos, disfarçando o que lutavam para esconder.

Click. Desistiram ofegantes, incendiados por querer.

Olharam-se, já com uma naturalidade audaz, de quem não se importa e nada teme. Como um manequim que desfila confiante por prazer. Sem pestanejar, os olhos desfilaram sozinhos, peregrinos e destemidos, percorrendo já o rosto em seu redor. Ele tinha uns lábios finos, cabelo ondulado e uma barba por fazer. Ela pressionava os lábios rosados, e mexia no cabelo liso comprido, sorrindo sem saber. 

Aqueceram-se mutuamente, num diálogo demorado que só o silêncio compreende. Preencheram, com o olhar, o vazio das suas almas apáticas, que se rasparam petrificadas naquele entardecer. Desaguaram, um no outro, num olhar inocente.

Amaram-se, no olhar cruzado em fogo, preso numa imagem de raspão. Fotografada com cor. Brilhante e quente, eterna, guardada pelo calor da ilusão.

publicado às 00:10

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