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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Há dias mortos. Chamo-lhes mortos porque não tiveram vida. Como se não tivessem cor.
Hoje foi um dia morto. Desprovido de sentido. Com excepção dos momentos que passo de manhã com os meus filhos até ao colégio, em que subimos o parque e apanhamos folhas secas pelo caminho e falamos dos pókemons e das musicas que gostamos... todo o resto do dia foi como se não existisse. Não encontro uma cor para o definir. Durante horas e horas vivi incolor. E talvez isso mesmo se revele no exterior... mas, para meu espanto, todos me reconhecem. Até regressar a casa, já de noite, estive ausente. Deambulei pelo comboio, invariavelmente sentada de costas, e com bastante dificuldade consegui concentrar-me no meu Livro. "Quem me dera que estivesses aqui", assim se chama o que leio no comboio. (Tive de trocar o Dança, Dança, Dança do Haruki que era muito pesado...agora sempre posso compensar com cadernos e folhas que, basicamente, fica igualmente pesado, mas levo mais coisas!).
Estava a falar do livro, que fala de um homem que é abandonado pela noiva no seu 30º aniversário e que faz uma jornada até Paris para conhecer a cantora de um CD que uma amiga lhe ofereceu cujas letras refletem a sua vida. O livro é descontraído... e mesmo assim estava com dificuldade em le-lo... "quem dera que eu estivesse ali", pensava... mas estava a milhas de distância. Onde? Não sei. Ultimamente o marasmo do dia de trabalho provoca-me uma necessidade incontrolável de fugir de mim, de partir para parte incerta e viver outras vidas. Na verdade, as minhas histórias são muito mais divertidas, e refugio-me nelas constantemente. Chega a ser um vicío indomável. "Quem me dera não estar ali" percorre-me a mente a toda a hora... e olho pela janela e vejo gente a viver lá fora, e eu ali.
Folheio os capítulos do livro porque não consigo ler mais do que uma frase seguida. Os capítulos contemplam a minha indiferença, como elementos descontextualizados. E dou por mim a escolher as frases, como se fosse com elas montar uma história (já é o vicio do curso de escrita criativa no sangue! os capítulos estão entre aspas):
Fui orientada por "Linhas rectas", que piso a ondular como numa "Festa de manequins". Esqueço as curvas que seduzem, os perigos que movem e os sonhos pairam abandonados no ar. Traço um "Plano impossível", sentada num "Baloiço para abraçar o céu". Dou balanço e parece que oiço ao longe um susurro "Alguem te espera em algum lugar". "Somos todos esquisitos" penso imediatamente, mas "Às vezes as raparigas tristes têm sorte". O que era outrora gelo, derrete-se num imenso "Céu líquido". Nessa altura temos a certeza "O amor não tem fim". Rimos-nos dele, ignoramo-lo e acabamos por perceber que "Somos o tempo que nos resta". Apesar dos "Danos colaterais", assumo sem problemas "Tu és importante para mim". E ambos sabemos que não vamos "Viver para sempre", mesmo com "A promessa" que fizemos de nunca nos separarmos, nunca mais vivi "Dias tranquilos".
Não adianta sonhar com "Jardins secretos", um "Barco de cristal" e a "Flor do paraíso". Não basta sonhar. Tracei o "Plano de vôo" numa velocidade estonteante, como que a ultrapassar a "Barreira dos dez segundos", porque me sentia vazia sem ti, enclausurada "Entre as grades". Porque sem ti os "Quartos são tristes" e não consigo "Enco
ntrar um sentido para o dia".Por isso , "Digo -te a sério", por mais que procures : "O amor verdadeiro encontrar-te-á por fim"