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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Um dia, se o mundo girar ao contrário, vou-te reencontrar naquele parque, à beira da estrada, de carros abandonados onde nos separámos.
Nesse dia, os olhares atrapalhados vão desembocar no beijo ileso, que ficou preso, amarrado ao verbo apetecer.
Se mudar o rumo, corro atrás do teu corpo que ondula abandonado por entre carros, testemunhas do desejo cego de orgulhos que nos separaram num ridículo corte fatal. E deixo soltar as palavras estancadas, de hemorragias que escorreram num percurso teatral.
Às vezes ainda penso em ti, e tenho a vontade de fazer o mundo girar. Para um lado ou para o outro, não importa. Que gire! E volte ao dia onde nos abandonámos por entre os olhares intimistas dos carros, cúmplices de uma despedida tortuosa, corrosiva, de corpos desmembrados de um abraço perfeito. Num só corpo encaixados, o teu batimento junto ao meu peito. Um ritmo acelerado, num compasso acompanhado pelo meu. No meio dos carros parados, os rostos vacilaram, como por destino, automaticamente para o mesmo lado. O teu e o meu. Atraíram-se, os lábios procuraram-se magneticamente. Ainda assim, impedimos aquele momento que era só seu. Se pudesse girar o tempo, naqueles segundos largados ao vento, deixava-os fazer amor, encaixava os meus lábios nos teus, sem vacilar. Mordiscava-os lentamente, saboreava-os sem pressa. O prazer de um beijo sempre foi isento de pensar.
O mundo girou, girou tanto, tantas vezes, cada vez mais para o lado errado e por tempo demais. Já não sei onde estás. Amargamente, despojei-te de mim e nem me lembro da última vez em que te vi.
Mas se um dia, o mundo girar ao contrário, e eu encontrar-te novamente nos meus braços, vou mostrar-te, sem orgulhos, o quanto gostei de ti.
inspired by http://clandestinidades.blogs.sapo.pt/143131.html!