Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Estranha, a pedra.
Encontrei-a um dia numa praia, onde havia imensas pedras semelhantes. Cinzentas, com riscas brancas.
Mas "aquela" era a mais estranha, a risca branca era saliente, não era oval, nem achatada, uma parte era suave e redonda, outra era lascada como se tivesse sido cortada abruptamente. De tão "desformatada" e imperfeita apaixonei-me por ela, daquela forma inconsciente em que nos reconhecemos em algo ou alguém. Eu era aquela pedra cinzenta, com uma risca saliente branca, sem forma, imperfeita.
Estranho, quis dá-la alguém.
Que também me era estranho, mas que me fazia lembrar alguém. E foi assim que me desfiz daquela pedra, baptizei-a de Restart e esperei que os seus poderes imperfeitos encantassem, como por magia, um estranho que acabou por se revelar ninguém.
Estranho, apaixonarmo-nos por um estranho-alguém
Por uma pedra imperfeita, cinzenta, desformatada. Por um olhar que nos tira o cansasso e faz acreditar que o imperfeito pode ser perfeito para alguém. Por uma palavra que nos invade a alma empedrecida, rotinizada, e nos esculpe no rosto um sorriso absurdo de explicar.
Estranha, a pedra
que recomeçou o seu percurso, tantas vezes, umas suaves, outras abruptas, mas nunca o conseguiu terminar.
Estranho, perfeito
O vazio, lascado, cinzento, que se tornou o nosso olhar. A ordem natural das coisas. Talvez,o estranho tenha-se tornado normal. Penso na pedra estranha e onde estará neste momento a recomeçar.