Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Há 10 anos que faço o mesmo percurso matinal, apanho o comboio e troco nas mesmas estações de metro. Ainda assim, com o comportamento habitual de piloto automático, não há semana em que não me engane numa saída qualquer e quando dou por mim estou 2 ou 3 estações à frente… Não porque adormeço (pelo menos, não na maioria das vezes!) mas porque insisto em aproveitar aqueles 45 minutos de trajecto para fazer 300 coisas em simultâneo, entre ler, beber aguar, escrever, ouvir musica e por vezes falar ao telefone…. Na maioria das vezes consigo fazer estas coisas com sucesso… outras, confesso, que o aparato que instalo nas minhas saídas abruptas da carruagem do metro, deixando cair o livro, a garrafa de água, o lápis que rebola para baixo do banco, o fio dos phones que fica preso no livro vizinho do lado…enfim… aquela panóplia de coisas interessantes que não consigo evitar com o meu habitual ar aluado…don’t care.
Por mais rotas que existam, por mais vezes que as percorremos num automatismo robotizado, … por um ou outro motivo, há alturas da vida em que sentimos uma necessidade visceral em sair da rota habitual. Como se nos sentíssemos a afogar, sugados para dentro do mar revolto, e nos debatêssemos por chegar átona da água… Saímos, ainda inconscientes, de rompante, e sentimo-nos no início perdidos, sem saber se deslumbrados com a novidade, se assustados com o desconhecido.
Sair da rota é, por vezes, tão necessário como respirar…
Quebrar um silêncio que nos sufoca, arriscar um caminho em contra-mão, entrar em cruzamentos sem hesitar… perder-se também faz parte. Andar à deriva por um tempo. Essa é talvez a melhor parte de fugir a uma rota em colisão.