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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Quando o Amor acaba
Quando o amor acaba
Acaba tudo.
As expressões do rosto, os gestos, o brilho do olhar.
Acaba o encantamento que perturba a alma.
A vontade incontrolável de te beijar.
Acabam as recordações de conversas embrulhadas,
Do sorriso rasgado e as cumplicidades a dois.
É quando o amor acaba
que tudo desaparece, num ápice arrepiante.
A vontade desesperada de te ver,
Aquele desejo viciante
De falar contigo sobre um tudo-nada sem parar.
Só mesmo... falar.
A loucura de prender-me nos teus braços,
Enreda-los à minha volta numa teia
Dar-lhes nós, laços
E seguir os teus olhos colados aos meus.
Quando acaba. Não resta nada.
Das mãos que deslizaram sobre as minhas
Percorrendo-me com a suavidade de um deus,
Do meu corpo enfeitiçado, descontrolado, infiel
Do mordiscar dos lábios, com sabor a mel.
Ainda pergunto, em horas embriagadas,
Como deixámos tudo acabar?
Se foste tu ou eu?
Mas já não interessa para nada.
Quando o amor acaba, acaba.
Deixamos de dormir de noite,
Por um tempo interminável, assustador.
O vazio que afaga os meus braços
O silêncio incómodo do sorriso a desvanecer,
A ironia das palavras inacabadas, abandonadas.
Quando o amor acaba,
Alguém tem de perder.
Eu procuro, deambulando, pedaços de vida
que deixei espalhada em becos onde me perdi.
Numa rua escura, incerta, inebriada pelo sonho que vivi
Procuro-te agora com uma estranha calma
Mas só vejo um vulto, de costas,
De frente, não há nada. Não tem rosto nem alma.
Acabou de morrer.
Percebo que é mesmo assim.
Quando o amor acaba
acaba tudo, deixamos de ver.
Texto escrito para a Fábrica de Histórias