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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Entreguei o meu trabalho. Lá está no meio de tantos outros. Sinceramente não sei se me expliquei bem, as palavras por vezes pregam-nos rasteiras, nem sempre se resumem ao que vem no dicionário... "(...) se as palavras tivessem o valor das coisas mais ninguém faria amor. Bastaria dizê-lo".
De qualquer forma, precisei de utiliza-las para justificar o porquê e o mais importante é que inevitavelmente levou-me a pensar no que li, a entregar-me ao livro. Talvez não fosse má ideia fazer este exercício sempre que um livro nos toca de uma forma especial!
Neste livro de Haruki senti como se estivesse a falar com um amigo que esteve muito tempo sem dar noticias e, em tom de desabafo, vai-me contando tudo o que lhe aconteceu. Esta é a sensação que tive. De proximidade, de cumplicidade. Curiosamente nada sei sobre Haruki, mas isso não interessa para nada. Aquele estranho cativou-me.
Ás vezes conversamos com estranhos sem perceber. Sem hora marcada, sem motivo aparente e sem qualquer intenção planeada eles entram-nos pela vida a dentro. É como uma avaria no metro em que temos de sair de repente numa estação que não conhecemos, subimos as escadas intuitivamente ainda sem saber ao certo para que lado caminhamos nem como vamos chegar ao nosso destino. Assim é conversar com um estranho, uma incógnita, uma aventura, mas sempre a sensação de algo novo.
Aprendi no meu curso, no meio de 50 estranhos, que cada pessoa ocupa o seu espaço de forma diferente. Há pessoas que ocupam uma sala inteira e outras que quase não se vêem. Assim é a realidade aos nossos olhos, ao que vemos e sentimos. As pessoas são para nós a importância que lhes damos, a beleza que insistimos ver, o deslumbre que um dia decidimos encontrar.
Haruki foi um estranho que conheci e que estou certa que vou reencontrar. No monólogo surdo que travou comigo, disse-lhe em vão para arriscar, ultrapassar aquele estadio macambuzio de resignação. Não basta sangrar de amor, em auto-mutilação, há em qualquer estado de desejo e paixão um dever de arrebatar. É certo que é um tiro no escuro, há um risco inevitável da bala fazer ricochete, e acabar por nos matar...mas e então? É inútil ficar deitado na linha do comboio à espera do comboio passar...