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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Chegou o frio. Assim de repente, sem avisar.
Enrosco-me no sofá, no aconchego de uma manta abandonada.
O frio tem este efeito, uma carência que desperta o desejo de um abraço antigo.
Bebo de um trago o chá enquanto os meus olhos vagueiam algures no infinito.
O frio passa com a lembrança de um beijo derramado num sofá. Arrepia-me os dedos que se passeiam pelas costas despidas, o deslizar dos lábios rente ao pescoço, as pernas entrelaçadas, perdidas. Há um frio que queima por dentro devagar. Um silêncio incómodo que se propaga de mansinho. Uma solidão imensa de um gesto que sonhamos mas já não vem. Enrosco-me aninhada e envolvo a manta num abraço intenso, demorado.
Talvez seja o chá quente a percorrer-me por dentro.
Talvez seja o frio que chegou sem avisar.