Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Apanhei o comboio da 19h45, de boina enfiada na cabeça, phones nos ouvidos e com o meu livro em punho. Podia chover metoritos e eu, muito provavelmente, não me aperceberia. Como não me apercebi do tempo que estive parada no metro algures entre a Rotuna e a Avenida por uma avaria qualquer. Não interessava, estava demasiado embrenhada no meu livro sobre uma mulher invulgar com uma paixão ainda mais invulgar, e um homem vulgar que se apaixona por ela.
Não sei como consegui chegar ao comboio tendo em conta que tropecei três vezes enquanto subia e descia as escadas a ler o livro. Mas cheguei e sentei-me nos únicos lugares díponíveis, aqueles reservados. Talvez por estar de óculos postos, reparei logo à minha frente num casal, com os seus 23 anos, genuínamente simples e atraentes, ridiculamente apaixonados. Interrogo-me se eles sabiam o que sentiam. Confesso que me perdi nos seus olhares tímidos e sorrisos incontidos, nos pormenores dos seus gestos e expressões. Decorei as suas roupas, os jeitos do cabelo e a cor dos seus olhos, de repente eles entraram numa história da minha cabeça, de repente parecia que os conhecia. Na verdade, o estranho torna-se rapidamente familiar quando lhe damos um nome, uma personalidade, uma vida. E eu tenho algum jeito para isso...
Continuei a viagem absorta no meu livro tendo como paisagem não um comboio cheio de gente, mas aqueles dois seres à minha frente que embriagavam a minha imaginação. A viagem pareceu-me curta, demasiado curta. E em Oeiras separámo-nos. Eles também separaram-se.
Segui o meu caminho a pensar neles e veio-me à cabeça um texto que tinha lido num Blog que sigo. "Às vezes apaixonamos-nos por pessoas que não podem viajar connosco".
E estou com esta música na cabeça...