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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Um pedido especial fez-me continuar esta história...aqui vai o que me vem à cabeça hoje..
Biiiip..Biiiip... Sara acordou atordoada e agarrou o telefone que assinalava um mensagem. Por momentos achava que estava em Munique, com o Rui, e foi com desalento que reconheceu a solidão da sua cama. Já eram 11 horas, e a mensagem não era do Rui, era de um número que desconhecia. Abriu e leu "Bom dia :) deves ter perdido o papel! Sugiro o Meco. Está bom às 12h20?". Sara não conseguiu deixar de sorrir, o Ricardo tinha um romantismo natural, abrupto, meio louco. Ainda hesitou um pouco, vasculhou se existiam chamadas não atendidas, talvez o Rui viesse mais cedo...nada. Era doloroso aceitar que ele não gostava dela, que nem se lembrava dela e naquele momento poderia estar a partilhar a sua confortável cama de hotel com outra mulher qualquer que conheceu num bar. Sacudiu a cabeça afastando estes pensamentos que a atormentavam e dedilhou furiosamente no telemóvel "Perfeito! Espero-te ás 12h30".
Às 12h20 já estava a campaínha a tocar. Sara ainda apareceu com a escova dos dentes na boca e balbiciou qualquer coisa como "ainda falam 10 minutos..." mas Ricardo foi empurrando-a para a casa-de-banho dizendo "sim, sim...queria ter a certeza que tinhas os dentinhos bem lavados antes de te beijar" e beijou-lhe o pescoço abraçando-a por trás e enrolando os seus braços á volta da sua cintura. Sara deitou fora a água que tinha na boca e olhou perplexa pelo espelho. Aquela imagem de Ricardo agarrado a ela, parecia um déjà vu, tinha a estranha sensação de não o estranhar... ali estava ele como se frequentasse a sua casa todos os dias... Riu e deu-lhe um beijo na cara ouvindo um "Só??? oh páaa".
No caminho foram ouvindo as musicas preferidas de Ricardo, enquanto ele lhe ía contando as suas aventuras em miúdo quando andava nos escuteiros. Era sem dúvida uma pessoa cheia de vida e acima de tudo descomplicada. Sara invejou toda a felicidade que ele emanava enquanto se deliciava com o seu sorriso rasgado sempre que a olhava.
Almoçaram na esplanada da praia umas ameijoas e uma sapateira e depois esgeiraram-e para a areia desfrutando da tarde quente de Verão. Passearam pelo areal enquanto falavam da sua adolescência e Sara ía apanhando pedras, adorava coleccionar aquelas que pareciam mais estranhas. Ricardo inventou logo uma história com elas, havia o rei,a rainha, o cão, o gato... a sua imaginação provocava em Sara consecutivas gargalhadas. A tarde passou a correr. E já eram 19h quando arriscaram um banho na água gelada do Meco. Sara já ía a voltar para trás quando Ricardo se atirou para cima dela todo molhado e a tombou para dentro de água. "Oh páaa, parvo" gritou ela a rir enregelada, tentando acertar-lhe com a mão. "Tinha frio, estavas tão quentinha" troçava ele a rir também enquanto agarrava e a prendia com os seus braços. Por uns momentos ficaram colados, e os olhos prenderam-se um no outo, ficaram assim por segundos, perdidos, ausentes, enquanto o sol ía baixando no horizonte.
Já eram 20h30 quando foram petiscar qualquer coisa ao restaurante da praia.
- "Comemos algo rápido" - disse-lhe Ricardo - "depois podemos ir ver o anoitecer numa praia ali ao fundo que conheço".
Comeram um hamburger e seguiram para a praia de carro. Ricardo tirara uma mochila maior do porta-bagagens para levar.
- "O que é isso? - perguntou-lhe Sara curiosa
- "Kit de sobrvivência, sou um homem prevenido" - riu-se piscando-lhe o olho e empurrando-a para fora do caminho.
- "Oh pá..." refilou amuada.
Chegaram à praia que já estava com a maré cheia, apenas uns rochedos permitiam a passagem para o lado onde ainda existia areal. Ricardo avançou em direcção aos rochedos e Sara gritou-lhe
- "Onde vais? E se depois não der para voltar?"
- "E se, e se?? Anda lá... se não der dormimos naquele rochedo ali ao fundo que tem uma boca enorme...aiii que medoooo" gracejou.
Sara ficava atordoada com o a lata dele, agora ía passar a noite ali numa rocha, e quanto mais ridículo lhe parecia, mais graça lhe achava...e nem se tinha lembrado do Rui o dia todo.
Chegaram ao areal e o Ricardo disse "aqui está bom". "Bom? Bom para quê? Este gajo é louco" pensava Sara com um sorriso a escapar-lhe nos lábios. Ricardo tira da mochila um cobertor, depois outro. E por fim uma lanterna e duas latas de cerveja. Sara fica a olhar para ele perplexa.
- "Era esse o teu kit de sobrevivência??" - ri-se à descarada - "e se aparecer um morcego atiro-lhe com a lanterna ou com a lata?" - continuava já sem parar de rir.
Ricardo olha-a sério, demasiado sério, a ponto de Sara parar de rir e achar que o tinha ofendido
- "Se for um morcego, eu escondo-me debaixo deste cobertor, e ntu do outro, por isso trouxe dois" e desata-se a rir também.
Deitaram-se em cima de um cobertor virados para o céu comtemplando as estrelas. Ricardo era amante de astronomia e explicava-lhe entusiamado todas as estrelas onde ele já tinha estado
- "Aquela é a Estrela Faire Rien, a minha preferida, a malta lá não trabalha, canta e dança o dia todo..." e continuava com os seus disparates. Sara ria-se e aos pouco entrou no jogo inventando também histórias para as estrelas do céu.
Arrefeceu e Ricardo puxou o outro cobertor para os tapar. Enquanto a aconchegava debruçou-se sobre ela e mais uma vez os olhos prenderam-se um no outro, mgnéticamente, mas desta vez não lutaram por libertá-los. Saborearam demoradamente os lábios um do outro,mordicaram-os, delizaram pelo o sal dos seus corpos e bem depois fundiram-se num só como por magia. Adormeceram exaustos, abraçados, sem saber ao certo onde era o início de um e o fim do outro.