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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Quando era (mais!) nova pensava que as relações eram complicadas, a impulsividade e a insatisfação próprias da juventude eram razão suficiente para as relações não durarem, para as pessoas viverem numa incessante busca da sua alma gémea.
Nunca fui pessoa de fazer planos, não idealizei o meu casamento, não sonhei com o meu vestido de noiva, nem nunca me puz a pensar quando filhos gostaria um dia de ter e quais seriam os seus nomes...Mas, mesmo sem grandes planos, no meu íntimo sempre tive a ilusão que a vida de adulto seria emocionalmente calma, mais previsível e domável, e que as pessoas finalmente encontravam a serenidade capaz de acalmar os seus espíritos inquietos.
WRONG... a meio da década dos trinta olho em volta e vejo puzzles desfigurados, com peças perdidas, partidas. O que antes eram paisagens, hoje são desenhos abstractos e por completar. O que a vida de adulto trouxe de responsabilidade, trouxe de complexidade e de cansaço. E na verdade acho que andamos todos assim, um pouco cansados, fartos, sem paciência, deambulando entre um mundo e o outro, num arborismo ridiculo de obstáculos fantasmas.
Nem sempre as pessoas têm a coragem de colocar vírgulas, assumir que precisam de uma pausa para respirar. E num heroico acto infantil cavam logo um ponto final.
Dá-me a sensação que as pessoas não vivem, sobrevivem... vêem em vez de contemplar, engolem em vez de saborear. Não se esforçam, ou já não têm forças, ou simplesmente não estão para se aturar. E a vida passa-lhes ao lado sem as avisar. Desistem, separam-se, encontram outra pessoa, recomeçam, iludem-se, desiludem-se, têm saudades, voltam atrás...a nossa vida é num looping gigante, e às vezes, sem sabermos, andamos de pernas para o ar.