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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Chovia torrencialmente quando ela saiu do restaurante. Uma corrente de água descia veloz a rua íngreme.
Enquanto lutava com o chapéu contra o vento escorregou na calçada. Por atrás um braço forte segurou-a contra um corpo quente. Os cabelos despenteados não a deixaram ver de imediato quem era. Mas sentiu no seu pescoço uma respiração envolvente.
A chuva escorria pelo seu rosto pálido misturada com as lágrimas amargas, uma chuva fria, gelada, que teimava em não parar. Um chapéu grande preto abrigou-a do perigo, uns olhos negros prenderam-se nos seus e uma voz rouca sussurrou ao seu ouvido.
Há muito tempo que se cruzavam naquele restaurante. Olhavam-se. Sorriam. Sonhavam-se. Fugiam. Um dia, pensavam, talvez um dia.
Naquele dia o destino surpreendeu-os, como uma chuva inesperada. Deixaram-se ir juntos, impotentes, descontrolados, como a água que corria pela rua íngreme da calçada.
Chovia torrencialmente quando entraram no carro. Um temporal invadiu os seus corpos molhados, loucos de desejo, embaciaram os vidros, entrelaçados.
Foi uma inesperada e violenta tempestade.
O corpo, o chapéu, o carro.
Um abrigo.
Sentimos-nos velhas quando...uma primita que adoro linda, linda, de...13 anos.. nos diz que o nosso verniz está...OUT.
Era o meu "personal shopper" da Sephora comprado em New York...mas ao que parece é um old fashion red... no way...não vou andar demodé... o que está na moda são cores de gelado, de pasta de dentes com fluor...assim cores estridentes...ok, ok,...lá me pintou as unhas com o verniz risqué Havana, um vermelho alaranjado, very fashion...e confesso que as minhas mãos rejuvenesceram 10 anitos...ok, as mãos, o resto está na mesma, sorry.
Há um quiosque de um senhor indiano, onde eu compro todos os dias o jornal ao meu pai, que vende esses vernizes. Ontem quando lá fui decidi comprar um frasquito para mim, assim só para ir retocando enquanto conduzo, claro :)
Eu (com um phone no ouvido) - olhe queria também um verniz Riqué Havana.
Ele - Savana?
Eu - Não, Havana.
Ele - Só tenho Savana.
Eu - Sim, deve ser isso, é este que tenho (e espeto-lhe com os dedos na cara).
O senhor aprecia as minhas unhas, abana a cabeça afirmativamente e estende-me o verniz. Por acaso olhei para o nome... "Havana"...
Eu - Está a ver, é Havana!
Ele - O que é que eu lhe disse?
Eu - Disse-me Savana.
Ele - Isso foi o que a senhora disse, está a ouvir música... é Havana. É esse que quer não é?
Eu - Não, é o Savana, tem???
Give me a break...deixei-o a falar sozinho...mas levei o verniz, just in case...