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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Hoje que até vinha lançada para chegar cedo, acabei por chegar às 20h30.
É certo que demorei quase 15 minutos a carregar nos botões para abrir o portão de ferro da garagem, comigo nunca funciona e todos os dias praguejo para o abrir...lá para fechar ele nem hesita, sempre à espera de me triturar o carro. Por mim pode ficar sebento, cheio de pó e com a tinta a cair aos bocados, se não corresse sérios riscos de ser expulsa do condomínio ainda lhe rabiscava uns grafites só para o chatear.
Mas a razão maior foi ter-me perdido numa feirinha de livros que está no Metro do Cais do Sodré. Confesso que fiquei indecisa entre o "Guia de uma mulher ocupada para ser bela" (não era bem este o título mas era do género, até me estou a ver a escrever estes conselhos sábios!) e o "Dicionário Prático de Português-Russo / Russo-Português", este sim, essencial nos dias que correm, com a dificuldade que tenho em entender-me com certas pessoas com quem lido diariamente, falam russo de certeza... Mas acabei por me perder pelos "Aforismos de Kafka", um homem que diz que a palavra "sein" em alemão tem dois significados, existir e pertencer a alguém... dá que pensar! A minha irmã é mais velha que eu 9 anos e é mestre em Filosofia. Assim, quando as outras crianças ouviam as histórias da Bela Adormecida, eu convivia feliz com as Elegias de Rilke e os Aforismos de Kafka... mas by the way, era a única criança de 12 anos que sabia as histórias dos Deuses gregos de cor! Fazia furor :)
E ainda embalada por este senhor, fui rabiscando umas coisitas no meu caderno durante a viagem de comboio, e já agora que tenho este cantinho aqui, e a criançada está a ver o Panda até às 21h30 porque eu deixo, vá, depois vão para a cama... pensei: why not? Posso partilhar alguns rabiscos aqui no Blog. Não há censura! E eu até gosto de escrever aqui, parece que estou a falar, e até tenho saudades de escrevinhar a algumas pessoas, whatever... como o meu amigo que me vicia nos inglesados me disse hoje por e-mail
By the yes by the no, só para verem que sei rimar :P, aqui fica!
Tu eras o Mar
Eu era a Areia
eras aquela onda imensa ao longe
que brilhava soalheira.
Aproximavas-te de mansinho
deslizavas aos meus pés
rebentavas cheio de espuma
com a força das marés.
A tua espuma sedante
envolvia-me e enroladas
eu e tu misturados
como num conto de fadas.
Já não era areia branca
reluzente e desprendida
Era molhada, viciada
Indefesa e rendida.
Aquele momento embrulhados
eras prazer e loucura
mas estava na natureza
recuares sempre com bravura.
E deixas em mim uma marca
com o que levas contigo
a minha alma, um desejo
um companheiro, um amigo.
Vais batendo com fúria
numa rocha que nos rodeia
ela não cede, é dura e fria
eu rodeio os seus pés com areia.
Espera! Percebi então
na confusão da minha mente:
Tu eras afinal a rocha dura
Eu era o mar e a areia, estranhamente.
E em homenagem ao meu amigo inglesado que não gosta da Tina, da Avril nem do Enrique, pronto aqui fica a Katie Melua que gostas! Eu também adoro esta!