Hoje tive um ataque de nervos quando cheguei a casa e vi a nova decoração do meu aparador de entrada... sim, porque eu devo ser a única criatura que paga a uma empregada, que por acaso tem curso de manicure, para tratar da casa e dos filhos, e recebe de bandeja uma decoradora de interiores... sim, aquele trapito, que por acaso era de família e de linho envelhecido, que estava em cima do aparador, era muiiiiiito feio... e vai daí, embora lá comprar um paninho com bordados, rendinha, ou outra coisa qualquer horrível à volta, mais pequeno que o dito aparador e colocar lá em cima, e voilá “Surprise!”. Para sorte dela eu não cheguei primeiro e não tive oportunidade de espumar à sua frente... sim, até porque aquele último grito de moda de têxteis só tinha custado 2,90€, do meu dinheiro, claro...!
Mas já relaxei, retirei o dito pano bordado e, vendo bem, muitas coisas desta casa não foram escolhidas por mim, nem as tintas das paredes, até coisas que comprei parece que não ficavam lá muito bem e... foram trocadas,...a bem dizer, a culpa é toda minha porque sempre disse Ok a tudo, mas afinal são só móveis e cortinados, who cares? quem vive aqui é que me importa...
Definitivamente escrever é uma terapia e enquanto vinha no comboio fui escrevinhando umas coisitas que me foram divertindo para quebrar o dia frio de Inverno.
Aqui vai uma conversa entre duas teenagers.
- Achas que ele me viu?
- Não sei, passaste assim a correr sem olhar
- Era para não olhar para ele.
- Então como é que queres saber se ele te viu?
- Não sei, podias ter reparado.
- Não me avisaste
- Era para não dar nas vistas.
- Mas não querias que ele te visse?
- Queria que visse que eu não o tinha visto.
- Para quê?
- Para lhe mostrar que nem reparo nele.
- Mas reparas e queres que ele repare em ti, certo?
- Sim, mas faz de conta que não. Também está sempre com a outra.
- Qual outra?
- A pseudo-namorada que não o larga.
- Mas tem namorada?
- Não sei, mas parece.
- E daí, tu também tens.
- Eu sei, mas não me interessa.
- Ele?
- Não, o meu namorado.
- E ele?
- Não sei, irrita-me.
- Se te irrita então não lhe ligues mais, é um convencido.
- Eu sei, e isso também me irrita.
- Então embora lá.
- Espera... que ainda não estou preparada
- Preparada para quê?
- Para o enfrentar.
- Enfrentar como?
- Com uns olhos de indiferença
- Qual indiferença? Não páras de falar nele?
- Eu sei, mas ele não sabe.
- Não percas mais tempo, é um miúdo, só tem 12 anos
- Eu sei, e eu tenho 14, mas acho-lhe graça
- Graça como?
- Sei lá, faz-me rir.
- E estás neste desatino porque te faz rir?
- Gostei de falar com ele no outro dia.
- O que é que ele te disse?
- Quase nada.
- Então do que é que gostaste?
- Não sei. Acho que passei o tempo todo eu a falar.
- E ele?
- A ouvir-me.
- E qual era a graça?
- Sei lá? Gostei de estar com ele.
- Então convida-o para sair contigo outra vez.
- Não posso.
- Porquê?
- Tenho namorado.
- Inventa qualquer coisa.
- Já inventei da outra vez.
- E não valeu a pena?
- Não sei...fiquei a gostar ainda mais dele.
- E ele, achas que gosta de ti?
- Acho que não, se não já me tinha dito.
- Mas onde é que foram?
- A uma matiné, claro, ainda não pode entrar em discotecas.
- E tu não te importaste?
- Não, até gostei daquilo, ouvi Brian Adams.
- Que seca... e ele dança?
- É um óptimo dançarino, mucho caliente, fartei-me de rir com ele.
- Então vai a outra matiné, lá o teu namorado não vai de certeza.
- Achas?
- Tenho a certeza.
- Não... achas que vá lá outra vez?
- Se te apetece... Qual é o risco?
- É perigoso.
- Achas que te vai agarrar?
- Nãooo... já te disse que não gosta de mim. Eu é que o agarro a ele.
- Entãooo?
- Irrita-me porque em vez de me fartar, ainda fico a gostar mais dele.
- E então?
- Então... isso é que eu tenho a certeza que NÃO quero.
- Pfff... embora lá sair da casa de banho que já deu o 2º toque e ainda apanhamos falta!