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Domingo, 11 da noite

por Closet, em 16.11.08

Texto inventado para a Fábrica de Histórias, ttp://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/2008/11/10/

Dão um tema e, voilá, cada um inventa o que quer... vi e pareceu-me irresistível.

 

Domingo, 11 da noite

Depois de um dia calmo, uma tarde bem passada numa esplanada com amigos, o habitual jantar de Domingo em casa dos meus pais, pois há que os por a par de todos os projectos que Eles fazem para a minha vida...voltei para casa já eram 11 da noite com aquela sensação de quem vai entrar num túnel sem luzes: mais uma semana chata de trabalho pela frente... Enquanto conduzia e ouvia as músicas da Avril com o volume de tal forma alto que impossibilitasse os meus neurónios de pensar, lá ía cantarolando e suspirando sozinha.

Cheguei e, para variar, não havia lugar para estacionar... Porque é que eu fui morar para a Alfama??? Ainda pensei em deixar o carro a tapar outro com um bilhete, afinal estava mesmo em frente à minha janela. Mas depois do meu último episódio, em que tive de sair de casa às 6h da manhã, em pijama e chinelos, a implorar à polícia para não me levar o carro já empoleirado num reboque, com a brigada da 3ª idade, que são os meus vizinhos, a assistir com aquela cara de quem pensa “esta juventude está perdida”, e ainda tive de pagar uma multa valente! Não, era melhor não arriscar. Fiquei um pouco mais à espera que alguma criatura saísse de casa aquela hora, para comprar tabaco, beber uma ginjinha, o que quisesse, mas que vagasse um lugar. Já me estava a recostar quando ouvi um grito, agudo, assustador. Vinha do meu prédio, provavelmente do andar que tinha sido alugado recentemente a um casal com cerca de 40 anos. As luzes estavam acesas e via-se um vulto na janela a esbracejar. Fiquei a olhar aterrada, afinal eles nunca davam os bons dias a ninguém, e na verdade tinham aspecto de pertencer a algum organismo tipo CIA. Eram altos, musculados, de cara fria e sisuda. Outro grito, desta vez algo bateu na janela, vinha definitivamente da lá. Fiquei pregada ao banco do carro sem saber o que fazer. Tocar à campainha estava fora de questão, ainda me sequestravam e serviria de arroz de cabidela no Japão. Pensei em tocar à campainha dos outros vizinhos, mas eram todos velhos, já deviam estar a dormir. E à polícia, o que poderia dizer? Que tinha ouvido dois gritos de um apartamento do meu prédio onde vivia um casal estranho? Provavelmente diriam para não me meter na vida das outras pessoas e, com a minha sorte, ainda me passavam uma multa por ser inconveniente. Bom, entrar no meu prédio estava fora de questão, Bond Girl nunca foi o meu estilo (apesar de fisicamente admirar todas), e por mais episódios que tivesse visto da Missão Impossível estava demasiado assustada para agir. Já imaginava agentes secretos ao soco naquele apartamento, corpos embalados em sacos de plástico preto para lançar ao rio,... 

Liguei o carro e voltei para casa dos meus pais com uma desculpa esfarrapada para dormir lá esta noite. De tão felizes que ficaram, nem me questionaram. Incrivelmente, hoje o meu quarto de infância pareceu-me um verdadeiro paraíso.
 

 

 

 

(Texto inventado por Closet para a Fábrica das Histórias)

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publicado às 14:08


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