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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Tudo isto é fado
É Junho, uma tarde amena que antecipa mais um Verão. A brisa suave sopra entre as ramagens das árvores soltando os meus cabelos longos. Há o verde imenso da folhagem que me cerca, preso a hastes frágeis de troncos de madeira.
É aqui que te espero, paciente, neste banco enferrujado de tinta lascada. Sem relógio que me guie, ou calendário que me prenda ao tempo. Sou só eu e este nosso lugar encantado. Mágico. Nostálgico. Brindado por raios de sol, num amarelo vivo, brilhante. Aquecem-me a pele clara, como se de mil braços se tratasse, envolvem-me num abraço único, aconchegante. É este brilho que me sossega, protege-me da tortura constante. Porque o sangue que me corre nas veias, agitado, grita saudade. No final do dia, quando o sol foge, toma conta do meu peito. Impossível ignora-lo. Fervilha de tal forma intenso que tinge este lugar calmo verdejante, num imenso vermelho. Vivo, ardente. Queima lágrimas de ausência, flameja o sorriso das lembranças. Como os sete castelos que construímos no céu. «Um para cada dia da semana» dizias na tua voz aveludada. Eram assim os nossos castelos dourados, sonhos impossíveis que planeámos na ingenuidade de crianças. Mas a realidade, crua, sempre foi tão diferente do nosso conto de fadas. Corremos os continentes em busca das promessas derrotadas, e em cada um enfrentámos as batalhas mais temíveis do tempo com os cinco escudos invencíveis que esculpimos em noites de céu azul estrelado. Defendiam-nos do destino que nos separava. Nós lutámos sempre, com as únicas armas que tínhamos: o desejo e eterna vontade. «Não te esqueço» dizias-me quando partias. «Lembro-te sempre» abafava no meu peito, enquanto te acenava.
Tem sido assim o nosso mundo secreto imaginado.Todas as noites te sonho, todas as manhãs te espero aqui sentada. De alma içada ao vento, entre o verde esperança que me ampara e o vermelho vivo do coração onde te guardo.
Texto escrito para a Fábrica de Histórias.