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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Imagem tirada daqui
Sonhos mágicos
Era uma vez uma rapariga que fazia sonhos numa banca de Natal.
Todos aqueles que provavam os seus sonhos rendiam-se ao seu talento, repetindo sofregamente mais um e outro, nunca se sentindo saciados. Uns diziam que eram sonhos simples de ovo, outros de abóbora e outros de cenoura. Mas a rapariga, de nome Doriana, encolhia os ombros e não lhes dava qualquer nome, apenas Sonhos.
Eram os seus sonhos, dourados e quentes como o sol de verão, fofos como uma almofada suave de plumas. Doces, açucarados, desfaziam-se rapidamente na boca, viciando aqueles que os que ousavam provar, eternos dependentes do sonho.
Todos os anos, por altura do Natal, vinham verdadeiras romarias provar os sonhos daquela pobre rapariga, acreditando que tinham poderes mágicos para quem os ingeria. As pessoas afirmavam sentirem-se mais felizes, mais amadas, mais compreendidas.
De tal forma acreditavam ser poderosos que pediam a Doriana para fazer sonhos o resto do ano, para abrir um negócio e expandi-lo além fronteiras. Mas Doriana não conseguia fazer dinheiro com os seus sonhos, eles tinham ingredientes especiais, sem qualquer valor material, mas únicos, não se compravam em nenhuma loja ou encontravam em nenhum lugar. Eram quilos de amor, dúzias de carinho e litros de emoções que jorravam abundantemente enquanto os amassava numa entrega total. Colocava neles tudo o que mais intenso e profundo sentia. Os seus sonhos e desejos mais recônditos transpiravam-lhe pela pele, pingavam em lágrimas de fantasia. Doriana nunca sonhava de noite quando dormia, esforçava-se por sonhar mas não conseguia. Percebeu que era enquanto amassava os sonhos, em pleno dia, que os sonhos transbordavam do seu coração, velozes, audazes, deliciosamente impossíveis.
Sonhos apaixonados de abóbora, sonhos simples de uma cabana à beira mar, sonhos a dançar ao luar de cenoura. Eram sonhos tão reais quanto as pessoas que os provavam e saboreavam deliciados o doce viciante da fantasia.
Texto escrito para a Fábrica de Histórias