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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Um norte-americano de Portland, no Oregon, tinha-se esquecido de um bilhete da lotaria na porta do frigorífico da sua casa. Ganhou assim 15,3 milhões de euros.
Quando se preparava para pagar uma conta do veterinário, Leland Hanson decidiu rever uma série de bilhetes de jogos que estavam colados na porta do electrodoméstico.
Foi então que se deparou com o prémio milionário, três meses depois do sorteio – que tinha ocorrido a 30 de Julho.»
Fonte: Correio da Manhã
Leland Hanson era um homem modesto. Com 42 anos e filho único, trabalhava como chefe de turno num fábrica de parafusos e ainda não tinha encontrado a felicidade. Namorou os últimos 3 anos com Dasy, a empregada do café trintona de silicone no peito e ancas roliças, até à noite em que houve uma inesperada pararem na fábrica e Leland ao regressar a casa encontrou-a enrolada nos braços de Eddie, de 28 anos, filho do dono da mercearia do bairro. Depois de explicações vagas e contraditórias, entre as quais que Eddie seria gay e queria converter-se ou de que era virgem e pretendia impressionar a namorada, Leland decidiu por termo ao namoro. Voltou a viver sozinho com o seu cão Rex, um rafeiro branco com uma mancha preta no olho esquerdo que lhe foi deixado com 3 meses à porta pela sua vizinha que desapareceu sem deixar rasto. Trazia consigo um bilhete na cesta «o amor vence todas as barreiras». E a prova disso é que venceu. Apesar da alergia crónica que Leland tinha ao pêlo de animais, afeiçoou-se de tal forma ao bicho que suportou tudo. Hoje, passados 4 anos, a irritação cutânea já diminuiu significativamente, ao ponto de não fazer crostas na borbulhagem e os espirros são menos intensos e frequentes.
Até Dasy embirrava com o animal só porque ele lhe enchia a lingerie de baba ou porque lhe roía os saltos sapatos, mas Leland nunca se quis desfazer do seu companheiro que até lhe fazia companhia na retrete, não se importando com o cheiro.
Uma manha, depois de mais um telefonema, que foi para a caixa de mensagens, da clínica veterinária, Leland decidiu por fim pagar a conta que estava em atraso. Não que costumasse deixar contas por pagar. Aliás, colocava seguro num íman da estátua da Liberdade, por ordem de prioridade, todos os seus recibos, a conta da água, da electricidade, do gás... Mas naquela consulta o seu Rex tinha sido mal tratado a um corte que fez numa pata por um estagiário bruto que pensava que o cão era de borracha.
Quando ía para tirar o recibo caíram-lhe ao chão os papéis todos, tudo espalhado no chão de pedra da cozinha. Foi então que Leland descobriu, entre os recibos e facturas, um talão ou bilhete. Olhou para ele e lembrou-se que era o bilhete da lotaria que um velhote chato lhe impingira num dia em que estava à porta do cabeleireiro à espera de Dasy. Ela saiu no momento em que ele estava a pôr o velhote a andar, mas disse-lhe naquela vozinha esganiçada que lhe arrepiava os ouvidos «compra amorzinho, pode ser que nos saia a sorte grande».
E saiu. Leland abriu o computador e procurou na internet o resultado daquele concurso que datava de 3 meses atrás. E, para sua surpresa, o bilhete tinha sido premiado com a módica quantia de 15,3 milhões de euros. Atónito, quando se refez do choque, Leland telefonou a confirmar o prémio. No mesmo dia em que foi recebê-lo despediu-se, fez as malas e decidiu mudar de vida. Ía para o Brasil viver numa casa junto ao mar com o seu Rex, não queria saber de mais nada, muito menos de parafusos. Mas antes passou pelo café da Dasy para se despedir, segredando-lhe ao ouvido «Obrigada amorzinho, foi um prazer conhecer-te».
Texto escrito para a Fábrica de Histórias