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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
(...)
Margarida acabou por levar-me a casa de táxi. Acho que cambaleava quando ela me ajudou a sair do carro. Junto à entrada do prédio abracei-a como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Pelo menos o nosso mundo. Era sempre uma incógnita. Pensar em perde-la já era o primeiro passo para a perder. Talvez por isso tivesse sido tão difícil desatar aquele abraço apertado.
- E agora Guida, é até daqui a quantos anos? 20, 30? Já sei, vamos para o mesmo lar de idosos, boa?
Guida não queria discutir comigo naquele momento. Lia nos seus olhos os seus pensamentos, que não serviria para nada senão para nos agredirmos mutuamente. Em vez disso abotoou-me a camisa junto ao colarinho e afagou-me o cabelo desgrenhado. Segurou-me o rosto e beijou-me, primeiro a face, a barba rala e depois deslizou até aos lábios, roçando-os ao de leve nos meus. Por segundos ficámos assim suspensos, de olhos fechados, sem nada dizer.
Guida era uma como um bombom de chocolate, por fora robusto, mas por dentro vertia um licor doce. Sim, ela era doce, era deste sabor que eu me lembrava dela. Nunca lho disse.
(...)
Ficou em 25 páginas e 3 narradores, o Conto que ainda não tem título!