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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Há dias abandonados. Povoados de sofrimento e inquietação. O fantasma que entra de rompante pela sua casa assombrada. Invade-a, de tal forma que as paredes estremecem. O chão de madeira gasta range e abana, as luzes apagam-se fúnebres na solidão. Até as chamas das velas se encolhem e o peito arde-lhe mais violento do que um vulcão. Treme, "de medo" pensa... não dele, do fantasma, mas por saber que a qualquer momento deixa de o ver. Desaparece, indiferente ao que ela sente, sem lhe dar explicação.
Moribundo, habita há décadas na gaveta da memória, desarrumado na imaginação. De tal forma nítido que ela atreve-se a dar-lhe um rosto, um corpo e até um nome. Por vezes hesita, não sabe bem. Mas é um fantasma, não duvida. Restícios do tempo que passou por ela apressado, rasto de caminhos paralelos distanciados em quilometros de mágoa e desilusão. O fantasma persegue-a, num sofrimento que a consome, sem piedade, em dias abandonados pela estranheza insuportável da realidade.
"Porque te procurei? ... "Porque voltaste?".
Um silêncio incómodo, injusto, transpira raiva e incompreensão "Porque te perdi, mais uma vez?".