Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Vejo ao fundo um corpo à deriva, desabrigado.
Ruma dia após dia, num oceano imenso de frustração. Inerte, abandonado e sozinho, navega sem direcção.
Na maioria do tempo dorme. Não pensa, não sente.
Embriagado numa realidade crua e distorcida. Prefere o sono confortante e profundo.
Isola-se do mundo.
Diz-me que já o esqueceu, mas sonha, em vão, que não o perdeu.
Sonha o calor dos braços compridos à volta dos seus.
Num recorte perfeito, simétrico, corpos encaixados, um homem e uma mulher. Entrelaçados.
Diz-me que já não o quer. Num ranger de desejos ancorados, despedidas repetidas, beijos demorados.
Incendeia recordações, dúvidas e medos.
Não quer acordar, em pânico emocional, não o consegue largar.
«Tenho de me desabituar dele» repete num sonambolismo demente. Não sabe se sente. Se apenas existe.
Se encontra a felicidade entre os espinhos da dor. Se é feliz ou triste.
Repete «Desabituar-me dele».
Olho-a para a compreender. Mas ela foge, empurrada pelos ventos,
Entregue aos seus pensamentos, sonha tudo o que não viveu.