Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Desabituar-me

por Closet, em 24.03.11

 

 

 

Vejo ao fundo um corpo à deriva, desabrigado.

Ruma dia após dia, num oceano imenso de frustração. Inerte, abandonado e sozinho, navega sem direcção.

Na maioria do tempo dorme. Não pensa, não sente.

Embriagado numa realidade crua e distorcida. Prefere o sono confortante e profundo.

Isola-se do mundo.

Diz-me que já o esqueceu, mas sonha, em vão, que não o perdeu.

Sonha o calor dos braços compridos à volta dos seus. 

Num recorte perfeito, simétrico, corpos encaixados, um homem e uma mulher. Entrelaçados.

Diz-me que já não o quer. Num ranger de desejos ancorados, despedidas repetidas, beijos demorados.

Incendeia recordações, dúvidas e medos. 

Não quer acordar, em pânico emocional, não o consegue largar.

«Tenho de me desabituar dele» repete num sonambolismo demente. Não sabe se sente. Se apenas existe.

Se encontra a felicidade entre os espinhos da dor. Se é feliz ou triste.

Repete «Desabituar-me dele». 

Olho-a para a compreender. Mas ela foge, empurrada pelos ventos,

Entregue aos seus pensamentos, sonha tudo o que não viveu.

publicado às 23:10


Comentar:

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.



Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Março 2011

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031