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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
O corpo deambulava, rígido, obedecia mecanicamente aos movimentos. Arrastava-se, pesado. Um passo, depois outro, num avançar lento e cego. Ritmado. O olhar pousado no chão de cimento sujo, percorria o caminho por instinto. Sabia-o de cor, enquanto a musica rasgava-lhe os ouvidos, impedindo as vozes de entrar. As outras e as suas. Procurava no barulho o silêncio ensurdecedor. Não lhe apetecia falar. As palavas queimavam em labaredas gigantes. Ecoavam um "também" doce, de travo a sal.
Sentou-se, sem hesitar, de costas. Era assim que se despedia de tudo o que deixou para trás. Afogava lágrimas de angústia e frustração num rosto pálido, fechado e sem expressão. Os lábios comprimidos e trémulos, lutavam contra um choro abrupto, prestes a romper. Os olhos, inundados, controlavam uma tempestade invencível, inevitável. Desaba quando perdida na noite escura, sozinha, permitia-se chorar.