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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Não sou um quadro terminado, sou uma tela vazia por pintar. Inacabada, constantemente recomeçada. Sou abstracto, inexactidão. Sou derrocada.
Não sou um caminho certo, mas uma rua curva de chão irregular. Metade de mim é bicho, é mato selvagem, metade é inconstante, irracional. Sou uma parte ácida, dum fruto doce, incompreensão natural. Metade de mim odeia o provável, o vício e o banal.
Não sou minutos do relógio que repete a dança num compasso fúnebre de espera. Renasço a cada segundo. Reinvento-me. Para depois, no momento presente, já não saber quem era. Sempre tudo novo, como num sonho, numa ilusão efémera.
Não sou um verso que rima. Sou despropósito, confusão. Sou antítese trocada, sou erro de conjugação. Não sei ser totalidade, com razão. Intangível, como o vento. Sou insatisfação.
Não sou rochedo ancorado em terra firme. Com amarras de aço invisível, porto seguro onde possam atracar. Sou dualidade em guerra permanente. Metade de mim é fogo e queima intensamente, metade naufraga no mar.