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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Fica a olhar pelo vidro enquanto a vida corre lá fora, apressada.
Escorre, em pingos mortos de chuva, que deslizam na janela. Embaciada, turva. A vida embate e escorrega, perdendo naquele vidro a sua força e o seu calor.
Por vezes não vê nada. Imagina apenas como será. Aquela vida que corre apressada, lá fora, do outro lado.
Vê-o passar, outra vez. O mesmo andar desengonçado. O sorriso nos lábios, no olhar, nos braços.
Vai agarrado a ela. As mãos envolvem o seu corpo, num fogo que arde devagar e lhe percorre as costas sem medo. Intenso. Tudo nele é intenso e louco. Desregrado. Os dois caminham num só corpo, perdidos um no outro, como um fio de novelo embaraçado. E sorriem. Com as mãos soltas do tempo, em beijos escondidos das sombras do vento. Sorriem e matam os dias vazios, com tanto que dão de si.
Por instinto, um e outro, inventam-se constantemente e sonham-se eternamente. Encadeados pela paixão imortal que lhes rasga o peito e o queima de dor. Pintam-se da mesma cor, de formas incompreensíveis, contornos indefinidos. Fazem juras de amor.
Ela vê-os passar pelo vidro da janela. Onde pingam lágrimas frias de chuva, amargas com a tristeza dela.