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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
imagem daqui
Perguntei-te baixinho, debaixo da árvore "Porquê?".
Não me respondes e eu não me lembro da razão. Está frio, e sinto a falta do teu corpo contra o meu. "Porquê?" continuo a perguntar em vão. E oiço apenas os braços das árvores, numa dança louca, por cima da minha cabeça zonza. Sozinha, deito-me no chão. Fico ali imóvel e parada por tempo incerto. Os olhos inchados de lágrimas, o corpo inerte. Petrificada. Um Porquê persistente que lateja na minha cabeça cansada, confusa. E aos poucos já não sinto frio. Nem calor. Nem dor. Não sinto. É um estado dormente. Habituamos-nos a estar assim. Aos pouco parece normal, e até mesmo natural. Não sei por quanto tempo fiquei ali.
Sabes o que irrita? Realmente irrita? Eu nunca ter deixado de pensar em ti. Sentir a tua falta. Em momentos dementes largava-me ao vento e voava distante. E podia jurar que estavas ali comigo. Caminhavas, como fantasma, mascarado, errante. Aparecias nas curvas mais perigosas, nos becos sem saída. Não tinhas vida, mas vía o teu espectro desengonçado, e chegava a confundir-te com a pessoa ao meu lado. Procurava-lhe a tua mão enorme e quente. Para de repente, ver que não era a tua. E sentia-me novamente ferida, frágil e nua. Despida de vida. Não sei já quem era o espectro, e quem vivia.
Num enterro de mortos, encontramo-nos, agora, vivos. Amantes ou inimigos. Não sabemos. Sobreviventes de uma guerra maldita. Nas trevas sedentos, carentes. A cabeça range um compasso inquieto. Os lábios secos são apertados. E o silêncio cobre-nos os corpos, rígidos, no tempo embalsamados. Não sabemos ao certo se estamos vivos, ou se somos os mortos que são agora enterrados.