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«Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, irremediavelmente afastados« Haruki Murakami
Se tudo o que sentíssemos fosse amor.
Os olhos rasgavam as dúvidas escondidas e as mãos falavam soltas, sem pudor.
Brilhava no escuro a ansiedade da pele arrepiada. E os lábios, sequiosos, raspavam-se selvagens, por instinto, para depois perderem-se pelo corpo, deslumbrados.
Trocávamos em segredo as palavras invisíveis, que revelam as coordenadas de todos os sorrisos contidos. Sem horas, nem pressa. Vagueávamos, nómadas, cúmplices de cheiros e saliva.
Se tudo o que sentíssemos fosse amor.
A verdade era a nossa melhor fantasia. Inocente, genuína, impune de aspas e virgulas.
Surgia em linhas curvas, assimétricas, sem ponto de chegada ou partida. Transbordava desejo, loucura, emanava euforia.
Deitados sobre a areia contemplamos o céu imenso, infinito. O crispar das ondas ao longe, a sua inevitável rebentação em espuma. Não sabíamos ao certo que horas eram, tão pouco distinguíamos o sol da lua.
- Queres-me?- perguntas.
Se tudo o que sentíssemos fosse amor, esta pergunta não existia.
Já perdi a conta às pessoas que amei, e me deixaram. Amei de formas diferentes, mas todas elas genuínas.
Deixaram-me. - Por amor, diziam.
Afastaram-se de mim, abruptamente, deixando no seu lugar um buraco fundo invisível. Para onde são atirados fragmentos de recordações gravadas na pele, e memórias de momentos para sempre perdidos.
Umas despediram-se de mim com algum tipo irracional de explicação, outras simplesmente viraram as costas na escuridão que a ausência perpetua. Mas desapareceram da minha vida. - Por amor, diziam.
Que me lembre, a nenhuma eu pedi para ficar, é certo. Que me recorde, nunca o amor para mim foi substituível.
Há mais de uma semana que não sei de ti.
Não te oiço os passos cansados, os horários desencontrados e as conversas misturadas de conforto e carinho.
Há mais de uma semana que não sei de ti.
Talvez até já tenham passado duas, o tempo sempre entrou em conflito comigo. Mas desta vez já não me rasgo por dentro, descontrolada. Não sufoco medos ou invento desculpas inúteis e sem sentido.
Não sei de ti. Assumo. Mais uma vez. É só mais uma vez, igual a tantas outras. Como se houvesse na terra um buraco enorme que te engolisse. Sei agora, com toda a certeza, que voltarás um dia. Apareces assim do nada, sem grandes desculpas ou explicações. E eu já aprendi a aceitar e não questionar. A vida é mesmo assim ao teu lado, um tecido tão raro, mas remendado, que por tantas vezes esgaça. Já aprendi a deixar-te viver nas minhas fantasias e ilusões e a entregar o meu fôlego a tudo o que vou agarrando de verdadeiro da vida.
Sei agora, com a certeza que tanto me queima a pele como me alimenta, a alma que te lembras de mim, sempre, ao acordar. E que me levas contigo à noite nos teus sonhos, aqueles com que aqueces a cama fria.
Um dia encontras-me num lugar singular, imprevisto.
Chegas devagar e dizes-me:
- "Olá tudo bem?"- com a habitual voz coloquial, desprendida de significado.
Respondo-te com um sorriso aberto, algo tímido disfarçado. Murmuro:
- "Olá, tudo bem contigo?".
Não haverá lugar a qualquer resposta, nenhum dos dois está verdadeiramente interessado naquela pergunta, tão desprovida de sentido.
Um dia encontro-te no lugar mais recôndito, ou banal. E os dois, em frente ao outro, seremos dois estranhos repelindo orgulho.
Os olhos ainda se tocam intermitentes. Mas s palavras entre nós morreram de espera, miseráveis. Inúteis. Vagabundas.
Um dia encontras-me num lugar qualquer, e o espaço entre nós dois, ainda que minusculo, abrigará um silêncio do tamanho do mundo.
E eu até sou capaz de falar do tempo, e tu até és capaz de me dizer as previsões da meterologia. Ridículos.
Encontras-me, um dia, num lugar estranho, e serás tão estranho como um vulto distante, perdido.
Adoro dias sem horas.
Quando o tempo não ocupa espaço entre os momentos.
Dias onde não existem relógios de ponteiros a limitar instantes únicos e apenas o sol nos acena o desenrolar do dia.
Não há horas, nem minutos, para nada. Há apenas ir e voltar, ou ficar, se assim entender.
Guarda-se o livro apenas quando os olhos cansados pedem para os braços se espreguiçarem na areia, e o corpo dormir se sentir vontade.
E todos os momentos mágicos de conversas e gargalhadas, partilhadas com genuína alegria.
Adoro dias sem horas, que são aqueles que mais perduram.
Estes foram momentos dos últimos dias.
Por uma vez que fosse,
queria ter-te num contexto diferente.
Noutro tempo, noutro lugar, em coordenadas inexistentes num mapa, ou em qualquer parte do sistema solar.
Queria viver-te despido desses fatos escuros cinzentos, das frases e decisões correctas e da obrigações morais.
Dizer-te abertamente "quero-te", nesse preciso momento, sem mais nada, sem precisar de me explicar.
Queria perder-me contigo num espaço apertado, e sorrir-te deliciada, enquanto me afagas o rosto e me prendes o olhar.
E nesse espaço minúsclo onde nos perdemos, é onde nos temos um ao outro, únicos, diferentes, como se o mundo girasse só para nós, para o lado contrário.
Queria ter-te, por uma vez que fosse, perdido a meu lado. Enrolar-me em silêncio dos teus braços, enquanto a lua acorda entre as ondas do mar.
Este ano passei a Passagem do Ano na neve. Na verdade, passei o dia 31 inteiro com os skis nos pés e a cabeça fresquinha!
Andei por aqui...
por aqui
no meu estilo habitual, falta total de sentido orientação: "é para baixo,certo?"...
(poderia fazer facilmente uma curta-metragem "Perdida na neve")
Mas ainda vou a tempo de desejar a todos... um BOM ANO!
Tenho andado a vaguear por aí, sem destino certo.
Reservo a (pouca) escrita para um desafio semanal em que participo, mas que não me permitem publicar.
E nem dei conta e já fiz anos, e já passou o Natal... e já vem aí, a passo rápido, o ano novo...
É assustadora a velocidade do tempo e, ainda assim, há tanto que fica preso em nós, como um ramo de árvore num dia de tempestade. Despido, desfeito, atirado para um buraco que o abriga num abraço apertado e o torna prisioneiro. Tanta coisa fica em nós, enquanto o mundo gira lá fora num rodopio estonteante.
Gosto de me sentar junto à janela neste dias de tempestade. Olhar tudo o que o vento conseguiu levar de mim e descobrir o que ficou agarrado em refúgios do meu peito.
Depois respiro fundo, afago os ramos que guardo cá dentro, vejo que alguns ainda me magoam e arranham, outros já se acomodaram e vivem moldados num buraco onde os retenho. Sorrio deliciada para todos aqueles que agarrei com firmeza, ou se agarraram a mim heroicamente, transbordando vida, paixão e encanto. Amo-os. Cada ramo que trago preso no meu peito.
FELIZ 2014 a todos!
... e já passaram 12 Outonos!
A juventude que lhe corre nas veias é da mesma intensidade da que corre nas minhas para acompanhar os seus desejos mais escondidos, compreender as suas queixas, dúvidas e frustações.
Ninguem disse que seria fácil... mas é a melhor coisa de mundo festejar as suas pequenas-grandes conquistas e partilhar todos os momentos de felicidade e de simples e pura alegria. Foram 3 dias de festas, como é hábito há 12 anos, com família, colegas e amigos. Cansativo? Sempre. Gratificante? Sem qualquer dúvida.
O tempo para escrever aqui em sido escasso, e talvez a vontade não tenha superado o cansaço e a hesitação... não porque me faltem as palavras... apenas as tenho guardado, aqui dentro, só para mim.