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Destino

por Closet, em 04.11.10

 

Há um destino. Malfadado. Escrito a uma tinta invisível.

Uma história de cordel com os ultimos capítulos esquecidos por quem não os quis escrever.

Inacabada, dramática, de amantes desmembrados por palavras mortas de amor.

Como um fio de arame farpado que rasga, sangrento, e os prende ao vento sem direcção.

Assim oscilam eles, vagabundos, numa realidade ficcionada sem escritor.

 

Há um caminho que procuram a vida inteira, sem encontrar.

Estreito, sinuoso. Secreto.

Distantes, examinam os corpos que jazem feridos. Por curar.

Das chagas que os queimaram.

Lambem-se, um ao outro. Por palavras doridas que extraem dentro de si, sem falar.

 

Há uma distância que os persegue, num percurso holográfico.

Repetitivo. Assustador.

Um cansaço que invade cada segundo que passa.

Numa luta inglória. Numa espera insuportável.

Como um caminhar solitário num chão frio numa busca incessante de calor.

Perseguem cegos as palavras moribundas que trazem na pele vestidas,

Numa embriaguez perpétua de desejo, de paixão e amor.

 

Há um destino, um caminho e uma distância.

Há desejo, paixão e amor.

 

 

publicado às 00:10

Fábrica de Histórias

por Closet, em 24.11.08

 

Naquela Tarde

Naquela tarde segui em frente e não olhei para trás.

Ainda hoje me pergunto porquê. Podia ter ficado.
Debaixo daquela árvore escrevemos os nossos nomes, fizemos promessas que sabíamos não conseguir cumprir, desbravámos os nossos corpos loucos de paixão. Foi lá que me perdi no teu olhar imenso, enrolada no aconchego dos teus braços, saboreando os teus lábios. Naquele tapete de relva ficávamos horas abraçados a conversar enquanto afagavas o meu cabelo, até as estrelas romperem o céu por entre as árvores, até o sol nascer outra vez. Eras o meu geodo, uma pedra de uma beleza única e invulgar, incrustada de cristais preciosos. Sabias que isso vale mais do qualquer diploma de universidade?
Costumavas dizer-me para te amar a dobrar, uma vez pelo dia de hoje e outra pelo o dia de amanhã. Nunca percebi realmente o que isso queria dizer, nunca me questionei, mas amei-te sempre o máximo que consegui, com todos os meus sentidos, com o coração no lugar da razão, intensamente.
Todos os dias corria por aquela estrada para te encontrar. Todos os dias estavas lá à minha espera, com um sorriso nos olhos, e uns braços que me pegavam ao colo e me lembravam que cada segundo da minha caminhada fazia sentido. Eu nunca me cansei de viajar.
Mas naquela tarde já não tinhas o sol no teu olhar. Os teus braços não me levantaram, os teus lábios estavam rígidos. Tinha chegado o momento. Aquele que estávamos a adiar. Nunca foste pessoa de fazer planos, eras como um folha caída que esvoaçava sem rumo ao sabor do vento. Se eu ficasse terias de mudar. Eu nunca fui capaz de tomar decisões, deixei-te decidir por mim. Tu abriste os braços e pediste-me para partir e não voltar.
Lutando com os meus olhos quis despedir-me dos teus, das tuas mãos que se entrelaçavam como um íman nas minhas. Pela última vez percorreste o meu pescoço com os teus lábios e incendiaste o meu corpo. Pela última vez não resisti. Que seria da paixão sem química?  
Podia ter ficado mais um pouco. Até estar preparada. Mas sei que nunca estaria. A decisão foi tua. E eu segui em frente, sem olhar para trás. Não sei se derramaste uma lágrima, se deste um passo para me tentar segurar. Só sei que não te voltei a ver.

Passou tanto tempo... E mesmo que hoje me corte a alma lembrar-te, não consigo arrepender-me de cada momento nosso. Aquele regresso, com lágrimas a escorrerem dos olhos e o coração amordaçado, foi o caminho mais longo que alguma vez já percorri. Mas se me perguntasses se queria voltar, muito provavelmente diria “só mais uma vez”.

 

Texto de ficcção escrito para a Fábrica de Histórias

http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/2008/11/24/

 

 

publicado às 21:12


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