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Fábrica de Histórias

por Closet, em 02.10.11

 

Noite sem Fim

 

Como se cada ponto de luz fosse alguém que os olhava no céu agitado de azuis. Olhares intensos, serpenteiam para seguir os seus movimentos e espiar os seus segredos.

 

Ele tinha entrado pela janela do quarto, trepando o tronco robusto que desagua junto ao parapeito. Tinha entrado com passos mágicos, e sem a acordar, sussurrou «minha doce mariana». Não imaginava que ela fingia dormir só para sentir o roçar dos seus lábios devagar, a respiração quente no seu pescoço e a voz suave para não a assustar. Porque era verdadeiramente assim que ela sonhava todos os dias acordar.

 

Tinham apenas as horas da noite, onde todos dormiam. Horas de noite, escura, pincelada de magia e sedução, enquanto os olhares de luz penetram pela janela e incendeiam-se os corpos de paixão.

 

Ela volta-se, ainda de olhos fechados, roça o nariz pelo seu rosto (como se o farejasse para se certificar que era ele), brinca com o seu nariz e encontra a sua boca quente, sedenta. Mordisca-lhe o lábio inferior, para que perceba que está acordada, para que saiba que o quer hoje, ainda mais do que ontem. Um beijo que se desenlaça, primeiro num tocar suave de lábios para depois envolve-los, molha-los, entregarem-se as línguas. Numa espécie de dança, os corpos encontram-se, tacteiam-se no escuro e encaixam-se de forma sublime. Como se cada um fosse a parte que faltava do outro. Tão juntos que as peles colam-se, fundem-se, tornando impossível separar-se. Ele segura-lhe a cabeça, afaga-lhe o cabelo e percorre-lhe o pescoço com os lábios, com a língua, com os dentes. Enquanto os corpos avançam ao ritmo do desejo que os queima, que imprime cada espasmo, rasga cada gemido abafado entre o prazer e a dor. Um ondular constante dos corpos entranhados, suados, iluminado pelos olhares que ondulam ao mesmo ritmo pelo céu. Pinceladas de azuis, bruscamente invadidas por labaredas gigantes, que se esvaiam do fogo libertado pelo êxtase profundo, simultâneo, dos dois.

 

Exaustos, os corpos adormecem no deleite do abraço entrelaçado, indiferentes ao serpentear agitado da noite escura, aos clarões dos olhares que os perseguem, como se cada um fosse alguém que os observava no céu agitado de azuis.

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

publicado às 00:19


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